O terceiro dia do Encontro Nacional foi marcado pelo encontro entre razão e emoção. Pela tarde, o filósofo Emilio Terron levou os participantes a refletirem sobre o seu papel dentro do hospital a partir do questionamento “de qual alegria e de qual saúde estamos tratando?”. À noite, a exibição do documentário Circo Paraki com a presença dos protagonistas circenses que fizeram história nos anos 80 emocionou a plateia.
Emilio Terron iniciou sua fala fazendo uma referência ao filósofo Baruch Spinoza, que atuou no século XVII e elucidou questões relacionadas ao sentimento de alegria. Passou também por filósofos como Friedrich Nietzsche e Jacques Lacan e pincelou períodos da evolução da humanidade. “O homem passou por três grandes verdades: deixou de ser o centro do universo, com Galileu; deixou de ser o centro das espécies, com Darwin; e deixou de construir a história, passando a ser fruto dela, com Karl Marx”, contou ele.
Depois de fazer uma cartografia dos tempos modernos, o filósofo levou todos a pensarem sobre a felicidade que cultuamos hoje: “A Organização Mundial da Saúde diz que a depressão é a doença que mais vai inviabilizar o homem nos próximos anos. Que felicidade é essa tão cultuada que vem justamente promovendo o avesso dela?”. Emilio discorreu sobre a importância de aceitar a dor e agir para superá-la: “O homem contemporâneo está muito melindroso com a dor. A dor é um sinal de que há algo paralisando, coagulando a vida, que precisa ser transformado. Quando agimos na causa do que nos faz sofrer, transmutamos a tristeza em uma alegria.”
Emilio também refletiu sobre o trabalho no hospital e a importância de propor, através do olhar fresco do palhaço, uma realidade que não existe e que pode transformar a nossa existência. Segundo ele, é preciso “fazer ver aquilo que ninguém consegue enxergar num hospital e poder permitir que nos exponhamos a uma espécie de caos de tal maneira que consigamos rir daquilo que nos entristece. Assim, do ponto de vista da saúde, estamos salvos”.
Fechando a fala, Emilio ressaltou ainda a força de um encontro positivo no hospital, dizendo que o trabalho traz “a possibilidade de uma criança experimentar algo ali que ela talvez jamais experimentaria; bons encontros podem ter a força de nos reatar à vida, de nos vincular a ela.”
Mais tarde, foi exibido o documentário Circo Paraki seguido de bate-papo com os artistas circenses que integravam a trupe que surgiu nos anos 80, em São Paulo. Foi uma noite regada a boas histórias, recordações e o sentimento de que o circo não pode parar, esteja onde estiver.
A diretora Priscila Jácomo contou de onde surgiu a ideia de produzir o documentário. A história começou quando vários circenses estacionaram seus trailers em um terreno vazio, próximo ao Anhembi, zona norte da cidade, em meados dos anos 80.
Tempo depois a prefeitura decidiu construir o Sambódromo naquele espaço e ofereceu outro terreno, às margens da Marginal Tietê, na altura do jornal O Estado de São Paulo. O sonho dos circenses que para lá se transferiram era que aquela terra se transformasse em um Museu do Circo, uma Escola de Circo e um Retiro de Artistas. Em um segundo momento, eles se viram rodeados de não-circenses que invadiram o espaço e, com o tempo, surgiu uma favela. Nos anos 90 o espaço deu lugar à construção de prédios do Projeto Cingapura, quando muitos dos antigos circenses saíram de lá. Mas um grupo de dez famílias ficou. A partir daí, a história se configura e dá forma a um belo documentário.
Além das mesas e da exibição do documentário, o dia contou com oficinas de formação para os participantes. O Encontro Nacional segue até domingo em São Paulo.
foto: Nina Jacobi