Difícil não estarmos no foco. Duas figuras de nariz circulando no hospital: foco. Logo todo mundo para, olha, comenta, puxa assunto, foge, fecha a cara e por aí vai.
Estamos acostumados com essa forma de chamar a atenção. Nos setores onde atendemos, a maioria está à nossa espera; só alguns desavisados, como pacientes, pais ou profissionais novos, é que têm um pequeno susto ao se deparar conosco.
Mas R. não pareceu se assustar em nosso primeiro encontro.
A pedido de algumas técnicas e estudantes, que estavam reunidos no posto de Enfermagem da Pediatria do Procape, tocamos o bolero “Quizás, Quizás, Quizás”. Temos usado bastante essa música, criando e absorvendo novas situações cômicas para a nossa performance. Então, motivados pelo sucesso dessa atuação, começamos o som.
Só que todos os olhares mudaram de direção, olhavam para o corredor. Ali estava R., dançando. Ela deve ter em torno dos 13 anos. Estava lá, bailando sozinha, de olhos fechados, com um sorriso no rosto e visivelmente envolvida pela música. De repente, o hall ficou cheio de gente, todos olhando para a menina. Nós nos olhamos e entendemos que não cabia e nem tinha mais razão de ser a nossa gag (piada) da música.
O foco era todo dela.
Dr. Marmelo convidou-a duas vezes pra se aproximar e balançar com ele, mas ela negava com o dedinho, afastava-se um pouco. Tudo isso dançando! E ela foi sumindo pelo corredor, a música chegou ao fim e todo mundo aplaudiu.
R. parou, chorou, colocou as duas mãos no peito e fez reverência a todos nós. Sua mãe, com simpatia, levou-a de volta pro quarto. Nós ficamos ali, inundados e gratos.