A pequena N. tem um cabelo lisinho, lisinho. Parece uma indiazinha.
Nas primeiras visitas a ela, no Instituto da Criança, ela se distanciava. Fazia aquela cara de choro que, mesmo sem lágrimas, assusta palhaço e garante sua proteção. Fomos deixando os encontros acontecerem, não dando muito foco pra ela. Ela recebeu um transplante e a sua mãe, a doadora, também estava internada. Ela ajudou muito a nos aproximarmos da pequena. Conforme o tempo foi passando, ela foi aceitando nossa presença, observando nossos jogos e bobagens. Começou a soltar uns sorrisos, nos olhar e fechar os olhinhos fazendo charme!
E adivinhem: nos últimos meses, ela nos vê chegando de longe e larga tudo que está fazendo!
Ela vem correndo, com seu dreno pendurado, balançando, e está se saindo uma bela mímica! Ela pede para a dra. Manela tocar o violino, pede para o dr. Pinheiro jogar a cartola e fazer seus truques, segue a gente nos outros quartos e ri muito.
Ah! Tem uma coisa que acontece muito no dia-a-dia de um palhaço dentro do hospital. Quando o medo aparece no primeiro encontro com uma criança e o seu acompanhante diz:
– Ela tem medo.
Eu logo digo:
– A palavra “M” … “E”… “D” … “O” não existe mais no dicionário!
Isso ajuda a criança a não mergulhar no medo, aquela sensação que ela está sentindo e não sabe bem o que é. Essa técnica tem funcionado muito nos últimos anos. Quem sabe um dia defenderei uma tese de um Doutorado em Besteirologia sobre esse tema!
Então prestem atenção:
Tenha medo de dizer que elas têm medo.
Até a próxima!
Dr. Pinheiro (Du Circo)
Dra. Manela (Paola Musatti)
Instituto da Criança – São Paulo
Dezembro de 2013