Na primeira vez que vimos o Tomas*, na UTI do Hospital Barão de Lucena, achei que não daria bola pra gente. Com seus 11 anos, estava junto de crianças bem menores do que ele. Tomas nos fitava de longe enquanto falávamos com a equipe multidisciplinar do setor.
Micolino foi o primeiro a falar com ele, e eu e Wago nos aproximamos em seguida. Desenrolamos uma conversa rápida e, para minha surpresa, conseguimos uma risadinha do menino.
Na semana seguinte, Tomas já estava na enfermaria e a expectativa era de receber alta nos próximos dias. Naquela ocasião, a gente ainda não sabia disso, e tivemos alguns encontros com ele até o dia de sua partida. Ele se divertia, participava, corria atrás da gente, a gente o colocava pra correr e coisa e tal.
Em um dos plantões, quando íamos pegar o elevador do terceiro andar para ir ao refeitório almoçar (pasmem, besteirologistas também se alimentam!), demos de cara com Tomas passando.
– A gente já volta para falar com você!
– Tá, vou ficar esperando.
Descemos. Almoçamos. E já que estávamos lá por baixo do hospital, já aproveitamos pra passar a visita pelo ambulatório e pela emergência. E, enfim, subimos para o terceiro andar. A porta do elevador abriu e lá estava Tomas. No mesmo lugar! Sentadinho, esperando a gente. Como pode?
Quando nos viu, o menino arregalou os olhos e disse bem alto:
– Até que enfim vocês chegaram!
Ele se levantou e pediu que esperássemos um pouco pra ele ir buscar suas coisas. Foi, voltou com a sua mãe e nos abraçou. Pronto, agora estava de alta. A gente não acreditou que ele tinha passado aquele tempo todo nos esperando. Ficamos muito emocionados. Parece que a consideração, a cumplicidade e a amizade que construímos com Tomas se traduziram ali naquela espera.
* o nome da criança foi alterado para preservar sua identidade