Ei, você! Você que acaba de pegar esse relatório pra ler. Sim, você mesmo! Tenho uma coisa pra te perguntar. Você tem dado o devido tempo pra você ou está na correria de fazer tudo na urgência, nesse tempo louco que parece que tudo é pra ontem ou anteontem? Hoje é hoje. Ontem foi ontem, e amanhã? Quem sabe?
É minha gente, o tempo é a coisa mais valiosa que se tem hoje em dia. Quem não tem tempo não tem um monte de coisas. Fica deixando tudo pra amanhã, acreditando que no futuro vai ficar melhor. Mas isso não é garantia, pois essa coisa de futuro fica difícil de prever. A gente às vezes imagina, profetiza e faz previsão, mas saber de fato o que acontecerá é muito difícil, já que se tratando de futuro nada está determinado, pois no amanhã até ele, o impossível, pode vir a ser possível.
Veja bem o nosso fato. Chegamos à emergência aqui no Hospital Barão de Lucena, que é bem ampla, e estavam quase todas as crianças concentradas no mesmo lado, justamente o lado pelo qual entramos. A equipe técnica ao ver nossa chegada também veio pro lado de cá. Então ficamos por ali. Mas logo de entrada olhamos pra todos os recantos e vimos que no cantinho, láaaaa do outro lado, tinha uma cama ocupada, sem vermos ao certo quem láaaaa estava.
Ficamos por ali atendendo. E haja riso frouxo pra apertar, miolo mole pra tirar e pum frouxo pra detectar mas, de tempos em tempos, arregalávamos os olhos pro outro lado de láaaaa, justamente para o cantinho onde a criança estava. Então fomos finalizando as coisas do lado de cá e fomos para láaaaa.
José observava de longe, mas quando íamos chegando perto ele virou o rosto pra cima, olhando pra janela no alto da enfermaria. Uma atitude óbvia de quem não quer aproximação. Marmelo disse: “Deixa comigo!”. E foi lá perto perguntar: “A gente pode chegar até aqui?”. Ele nem se deu ao trabalho de responder, virando a cara pro lado da parede onde estava sentada a sua mãe.
O paspalho estava bem próximo da cama e eu fui lá repreendê-lo. “Sai daqui Marmelo”, empurrei ele pra longe da cama e me pus a explicar. Primeiro a gente pede, de longe, pra depois se aproximar. “Ei!”, Marmelo veio reclamar, “mas você está perto, vá você pra lá”. E deu em mim um empurrão que eu quase caio cáaaaa! Nesse jogo de vai não vai, fomos tropeçando aqui e acolá até que meu cabelo caiu. E o José já estava às gargalhadas juntamente com sua mãe ao lado.
Se tivéssemos acreditado que o José não nos queria por perto, que só olhava pra gente quando estávamos longe, teríamos deixado pra depois, pra outro dia quando ele estivesse melhor, ou mais animado, ou junto de outras crianças, ou nem estivesse mais por lá, uma vez que na emergência não se fica muito tempo. Se tivéssemos deixado pra depois… nós não teríamos visto as risadas do José.