Pororoca está grávida. Verdade ou mentira?
Uma palhaça grávida. Existe isso? Palhaço tem filho? Vida lá fora? Palhaço é gente?
Quando uma pista da nossa vida real se torna evidente, é impossível que essa informação não invada o jogo, não permeie os encontros e as relações que construímos no hospital. Nos últimos meses tem sido assim. Dra. Pororoca, gravidíssima, caminha pelos corredores do Hospital Universitário exibindo um barrigão protuberante e deixando um rastro de interrogação cravado na testa de pais, acompanhantes, crianças e profissionais da saúde, limpeza e segurança.
Verdade ou mentira? Primeira grande questão.
Quem é o pai? Dr. Mané? Outra dúvida frequente.
Menino ou menina? Perguntam em coro.
Qual o nome? A curiosidade saltita.
Muitos não resistem e passam a mão na pança arredondada, emitindo quase que instantaneamente um grito, misto de riso, aflição e surpresa:
– É verdade!!
E todos correm para comprovar, num passa mão na barriga pra lá, passa a mão na barriga pra cá… E quando perguntam o que é, Pororoca não titubeia:
– É gente!
– Ele é o pai?, perguntam referindo-se ao doutor Mané Pereira.
– Ihhhhh, para fazer isso preciso ler o manual!, responde Mané ruborizando a careca.
– E o nome?
– É Psiu! Vem, Psiu, tomar banho! Coloca um casaco, Psiu! Um nome fácil de decorar e muito prático.
Por fim, a vida real invade mais uma vez a bobagem e o bebê de Pororoca – Pororoco, Psiu, Cá ou Joaquim – vai se tornando oficialmente parte do jogo, mezzo ficção, mezzo realidade.
Trabalhamos em trio, dois adultos e um bebê na barriga.
A vida secreta de um palhaço gera muita especulação, o olhar sobre a figura muda, a pessoa por trás da máscara cresce e por vezes torna-se mais interessante do que o palhaço em si, e o desafio é mesclar os universos, partilhando e reinventando essa história, a narrativa sobre a gestação real de uma palhaça inventada, uma história criada a cada dia e feita por muitas pessoas.
No berçário, a gravidez cai como uma luva, gerando identificação imediata com quem acaba de vivenciar essa experiência. Trocamos figurinhas sobre amamentação, parto, troca de fraldas, choro, tudo sob a ótica do palhaço, da Besteirologia, mas com um dado – a gravidez evidente – que potencializa o jogo, elevando a complexidade dos encontros.
E para completar, Pororoca terá o filho no próprio hospital, passando de doutora a paciente, de pessoa palhaça para pessoa gente, com RG e CPF. A vida real invadindo de maneira mais radical a criação artística. Mas essa história fica para um próximo capítulo…
Dra. Pororoca (Layla Ruiz)
Hospital Universitário – São Paulo