Em setembro realizamos, pela primeira vez, um cortejo dentro das enfermarias do Hospital Santa Maria, no Rio de Janeiro. Por tratar de pessoas com tuberculose, doença contagiosa, o hospital restringe o acesso a estas alas.
A ação aconteceu por meio do projeto Plateias Hospitalares, que convidou o querido grupo Bando de Palhaços para a linha de frente. Quem conta a história é Silvia Contar, produtora do projeto.
A gente sempre se apresentava no solário, um espaço ao ar livre, e os pacientes nos assistiam pelas varandas do prédio. Com muita conversa, exames na equipe e preparação, nós conseguimos enfim fazer a apresentação. E foi lindo!
É completamente diferente a reação dos pacientes quando a arte entra em seu espaço e eles se sentem parte dela. A palhaça Anna Terra, integrante do grupo Bando de Palhaços, participou desse dia tão especial e trouxe seu depoimento:
“É impossível falar da intervenção sem falar de toda a preparação que fizemos antes de entrarmos lá.
Quando essa ideia foi lançada quase todos se assustaram com o fato de sermos “expostos” a uma doença como a tuberculose. Conversamos bastante com médicos e funcionários do hospital para conhecer melhor o universo em que estaríamos possivelmente entrando. Após um longo tempo de conversas e encontros, decidimos entrar e fazer o cortejo.
Nosso contato antes era de longe. As apresentações do Bando de Palhaços aconteciam do lado de fora, no solar do hospital.
A comunicação era distante. Fisicamente distante. Do lado de dentro pouco sabíamos. Da doença, pouco sabíamos.
Com máscaras e sem nariz, entramos. E para nossa surpresa, descobrimos uma realidade bastante diferente do que imaginávamos. A sensação do lado de fora era como se os pacientes fossem prisioneiros. Quando entramos, fomos aos poucos enxergando as pessoas.
Paramos de pensar em uma identidade coletiva e começamos a ver os indivíduos. Do lado de dentro conseguimos enxergar a realidade deles e transformar o cotidiano deles de forma mais direta. A nossa grande dificuldade ficou por conta das máscaras. Era muito difícil se comunicar sem vermos nossas expressões. Tudo aconteceu bastante pautado pelo contato visual. A música nos dava o ritmo, mas as mudanças se davam através do olhar.
Acho que demos um passo importante na direção da desmistificação da doença e do contato com os doentes. Nossa busca agora deve ser por aprofundar as relações e buscar, nesse contato direto, a saúde ali já existente. Buscar uma forma de se comunicar e passar exatamente o que queremos, usando essa outra máscara.“