Dia desses entramos na UTI e M. estava dormindo. Quando sua mãe nos viu, seus olhos começaram a marejar, marejar, e de repente, transbordaram em um mar de lágrimas.
Por um instante ficamos sem saber o que fazer nem o que dizer, mas ao ver que o menino apenas dormia, falei: você está emocionada, então vamos aproveitar e aguar a nossa florzinha?. Aí entregamos a ela uma florzinha de plástico. Como ela continuava chorando, toquei em seu ombro e falei: mas olha, ele está bem… Ao que ela, com a voz embargada, respondeu: ele não está enxergando.
Silêncio.
Difícil escutar uma notícia dessas a respeito de um paciente nosso. Afinal, o M., com seus lindos olhos esverdeados, sempre nos olha com grande curiosidade, é um ótimo jogador, daqueles que nos inspira em nossa jornada de besteirologistas.
Bem, o silêncio não podia durar a vida inteira e eu, meio lá e meio cá, disse: humm, deve ter sido alguma complicação né… mas ele vai ficar bem. Olha, fica com a flor e vai aguando ela, na próxima visita a gente vê se funcionou. Fomos embora.
Na visita seguinte, encontramos a mãe na entrada da pediatria, com os olhos brilhando e muito feliz. Ela nos disse: “O M. está esperando vocês! Na minha cabeça passou um pensamento voando: ah, ele deve ter melhorado. Quando entramos na enfermaria, ele estava sentado e já sorrindo, nos viu!
Uau, M. estava enxergando de novo!! E ainda tinha uma historinha pra contar pra gente. Ele contou que aconteceu uma catástrofe, a florzinha que deixamos tinha caído justo no… seu cocô! A sua mãe até pensou em lavá-la, mas ele não deixou! Ora, para ele, sua mãe e nós, a florzinha acabou cumprindo o seu papel, e o que importava agora era a felicidade enorme nos olhos de sua mãe e a alegria de M. vendo tudo de novo!
Na última visita, ele foi logo avisando: Eu estou de alta. Perguntamos: Ué, quem deu alta, sem a nossa autorização?, O Dr. Pedrosa, respondeu. Então complementamos a alta, colocando um adesivo colorido em sua testa, nos despedimos e fomos embora felizes da vida!
Dra. Mary En (Enne Marx)
Dr. Marmelo (Marcelo Oliveira)
IMIP – Recife
Julho de 2013