Batemos na porta do quarto. Abrimos. O menino nos olha e diz:
– Eu não gosto de palhaço!
– Nós também não!, respondemos. Onde já se viu palhaço no hospital? Que falta de absurdo! Ridículo! O que palhaço vai fazer no hospital?
E a conversa segue nesse ritmo. O menino não entendendo e acompanhando o raciocínio, se é que existia algum, nos olhando com cara de espanto e alegria.
No primeiro dia fomos embora com o gosto do “não” na boca, no ar. Na outra visita já chegamos dizendo pra todo mundo que estava no quarto:
– Olha gente, ele ODEIA PALHAÇO, não gosta mesmo.
O menino com cara de espanto. Continuamos:
– Mas o Dr De Derson e o Dr Valdisney… Ele adora!
O jogo foi entendido. De fato, o menino gosta muito de não gostar de palhaço. E, bem, a gente adora falar que ele gosta da gente. Com cara feia e carinho, cada encontro é um acontecimento.
Val Pires, conhecido como Dr. Valdisney no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo.