O que se fala sobre o tempo?
Caetano Veloso diz que por ser tão inventivo e parecer contínuo, o tempo é um dos deuses mais lindos. Gilberto Gil pede ao tempo para transformar as velhas formas do viver. Nelson Cavaquinho diz que quando o tempo lhe avisar que ele não pode mais cantar, que ele sabe que vai sentir saudade do seu violão e de sua mocidade. Minha avó dizia para a gente ter calma porque tudo tinha seu tempo.
Este mês o tempo se apresentou de várias formas no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo. Chega mais que lá vem história!
Entramos e ela estava dormindo. Quando seu pai nos cumprimentou, ela acordou, mal virou a cabeça em nossa direção e os olhos semicerrados se abriram e se arregalaram:
– Nossa! Vocês existem!
Surpresa da parte dela, surpresa da nossa também.
– Parece que sim! – respondi beliscando Pinheiro.
– Ai! Eu existo, meu braço existe! – gritou Pinheiro.
– Tá vendo? A gente existe!
– Não! Não é isso! É que quando eu tinha 7 anos, eu estive internada aqui e os Doutores da Alegria me atenderam, e foi muito legal, eu amava! Quem vinha aqui eram os doutores Pysthollynha e Mingal. Eu gostava muito deles. Agora eu tenho 15 anos e vejo vocês aqui, de novo. Faz tanto tempo que eu pensei que vocês não existissem mais. Que bom que ainda existem!
Naquele dia, nos esquecemos do tempo e ficamos papeando. Ela nos contou das aventuras vividas com a outra dupla de palhaços, que estava naquele hospital porque era filha de uma das senhoras da limpeza que trabalha lá há mais de 15 anos, que estava na ala do convênio porque não havia vagas na ala do SUS e que se a gente não tivesse que atender outras crianças ela adoraria ficar o dia inteiro conversando conosco.
Coincidência ou não, naquela mesma semana encontramos P., que disse que conhece a gente desde que nasceu. Hoje ela tem 8 anos. Ela conheceu os Doutores da Alegria no Instituto da Criança, nas Clínicas, e pelo longo tempo de internação, foram várias as duplas que a atenderam. A alegria do reencontro foi tamanha que ela se jogou para o abraço. A gente sabe dos protocolos, que não pode tocar os pacientes… eu juro que a gente sabe! Mas era uma emergência!
A saudade e a paixão que ela sentia pelos Doutores eram muito grandes! A confirmação foi dada pela mãe:
– Olha, essa menina gosta mesmo de vocês. Gostava quando era bebê e continua gostando. Ela vivia me dizendo que não queria ter alta só para não ter que parar de ver os Doutores. Eu posso falar de boca cheia, essa adora vocês!
Dois encontros e duas crianças que nos acompanharam ao longo do tempo e que evidenciam a importância do nosso trabalho nos hospitais.