O hospital é um lugar onde a relatividade do tempo tem nuances que o próprio tempo duvida!
O tempo definitivamente para quando aquele corte tem que fechar, a febre tem que sumir, a glicose tem que equilibrar… Em outros momentos ele voa, como nessa experiência que Dr. Dadúvida e Dra Dona Juca dividiram com uma paciente do Instituto da Criança.
R. é uma menina muito inteligente e habilidosa. Ela sabe fazer origamis e seus preferidos são os tsurus. Quer ser médica quando crescer. Mas R. está há muito tempo no hospital. Não vê sua irmã há meses.
Na porta do centro cirúrgico, R. aguardava, junto a muitos profissionais de saúde, para dar um abraço em sua irmã antes de ir para sua quinta ou sexta cirurgia. A equipe insistia para que ela entrasse logo. A avó ligava sem parar para a mãe subir logo, até que resolveu sair atrás da mãe da R. para tentar apressar sua chegada.
Eu (Dadúvida) e minha parceira Juca ficamos na porta, com R.e a equipe médica, tentando convencer todos de esperar mais um pouco, porque a irmã, segundo a mãe, já estava no elevador. Mas não estava… Uns cinco ou dez minutos se passaram, mas para nós era como se estivéssemos ali há horas! Tempo, tempo, tempo!
Do outro lado do corredor, várias crianças sentadas na mesa central esperavam pelos palhaços que avistavam de longe. Decidimos ir ao encontro dos olhares e fazer um rápido exame besteirológico coletivo. Depois, voltamos à porta.
E só encontramos a mãe, a avó e a tão esperada irmã. Do lado de fora do centro cirúrgico.
A mãe, com lágrimas nos olhos; a avó, tentando falar que estava tudo bem; e a irmã, com uma carinha decepcionada, mas sem entender exatamente o que estava acontecendo ali.
Depois de tudo isso, aquela sensação… Será que se tivéssemos ficado ali, teríamos conseguido segurar a entrada da R. mais um pouco e ela teria encontrado sua irmã? Será que só irritaríamos mais a equipe médica? Será que as coisas aconteceram exatamente como teriam que ter acontecido?
Sem o que fazer para mudar aquela realidade, seguimos atrás do nosso tempo: tempo do encontro verdadeiro, tempo de uma boa cena, tempo cômico… E com alguma dificuldade, reconhecendo a preciosidade de se ter o tempo como aliado, mesmo quando ele parece estar contra nós.
Tempo, tempo, tempo, tempo é um dos deuses mais lindos…
Dr. Dadúvida (David Tayiu)
Instituto da Criança – São Paulo