Palhaços são freqüentemente apontados como profissionais do riso.
Fazer rir… Bem, seria como bater uma meta. Talvez isso remonte ao bobo da corte, ancestral do palhaço, cujo ofício era entreter o rei e sua corte. Mas o riso tomou muitas formas e significados ao longo da história da humanidade, sempre associado à cultura local.
Na Idade Média, o riso era controlado, excluído dos ritos oficiais. As autoridades, os religiosos e os senhores feudais defendiam a seriedade como atributo da cultura oficial. Rir era quase proibido, era “coisa de bruxa”!
Rir era subversivo, era um ato de rebeldia, uma característica essencial da cultura popular – e, por isso, vulgarizado. Havia espaços para o riso: festas populares, carnavais de rua, becos… Era um bom remédio contra a opressão e um canal de expressão de liberdade.
Durante o Renascimento, o riso toma outras proporções, entra na grande literatura – como em Shakespeare –, trazendo concepções a respeito do homem, da história, dos problemas universais que afligiam a humanidade. Surge como humor, ironia, sarcasmo.
Para Mikhail Bakhtin, o riso é um instrumento de combate ao autoritarismo, à intolerância e à falsa moral da sociedade. Bakhtin também fala da paródia… E aqui voltamos ao palhaço!
A paródia é uma releitura, uma reinterpretação cômica que usa da ironia para subverter a ordem pré-estabelecida, fazendo uma sátira da realidade. Quando o palhaço entrou nos hospitais, lá nos anos 90, fazia uma paródia da figura médica: o Doutor da Alegria.
Era um sujeito com um jaleco cheio de cacarecos, uma aparência questionável, entendido de Besteirologia, sem autoridade nenhuma e fadado ao erro. Uma releitura do médico.
Para os pequenos pacientes, uma incrível brincadeira que quase sempre terminava com o besteirologista se dando mal. Isso quebrava a resistência à figura médica e tornava a experiência no hospital menos tensa. O riso transformava as relações entre as pessoas em um ambiente duro como o hospital.
Atualmente há muitos estudos sobre o riso e sua função na sociedade pós-moderna. Qual seria, hoje, o lugar e a função do riso no hospital?
Sim, continuamos nos questionando se a paródia se mantém ou vem dando lugar a outras formas de manifestação social. O que você acha?