Poxa, sabe aquele mês em que tudo acontece? Pois então, maio foi assim. TUDO EM TODO LUGAR, QUASE AO MESMO TEMPO. Não fosse o quase, seria mesmo aquele filme que ganhou 7 estatuetas do Oscar. Não viu? Pois foi muito parecido com a nossa jornada maio adentro no hospital.
Tive que ficar de astro principal dividindo a cena com coadjuvantes que se revezavam no papel, ora Gonda La Gonda, ora Muskyta – também batizada de Dra. Tripinha, mas esse é um segredo da Dra. Silvana e eu não posso contar pra ninguém.
E não é que tinha dias que Ninguém vinha trabalhar comigo? Ele mesmo: Wago Ninguém!
Mas quem realmente mostrou ao que veio foi o Peixoto. Esse sim tomou conta de várias cenas. Certo dia, ouvimos um chororô vindo de uma enfermaria, estava eu e o Dr. Gonda. Entramos, mas a Vic não quis saber da gente.
Começamos a procurar o Peixoto pela enfermaria; ela continuava o choro, um pouco mais brando, enquanto observava a nossa busca por debaixo da cama, entre o colchão e a parede, em cada recanto da enfermaria.
– Dr. Eu, procura no banheiro.
RÁ! Lá estava o Peixoto, o peixe. Ele apareceu de relance na porta e a Vic mudou o tom. Cada vez que o Peixoto aparecia pela porta a menina se interessava, ria e dizia pro pai:
– O pessinho!
Peixoto ganhou muitos pontos nessa investida.
Outro dia, estava eu e o Dr. Wago na grande enfermaria que tem no 6º andar do CEONHPE, que estava cheia de crianças e a maioria era de bebês. Então, não dava pra ficar gastando bebenês – a língua dos bebês.
Resolvemos examinar quantos, dos que ali estavam, giravam bem da cabeça. Um exame simples que faz o paciente girar a cabeça para um lado e para o outro. Dr. Wago tocou seu violão:
“O que é que o peixe faz no mar?
Nada, nada, nada
Peixe é muito folgado, fica só de bobeira,
Fica fazendo nada, com sua nadadeira
O que é que peixe faz no mar?
Nada, nada, nada
Eu queria ser peixe, só pra não fazer nada,
E ainda por cima, respirar debaixo d’agua.
O que é que peixe faz no mar?
Nada, nada, nada”
Enquanto tocávamos e cantávamos, Peixoto bailava daqui pra lá e de lá pra cá. Ia bem pertinho de cada bebê e soltava beijinho pras mamães. Todos seguiam atentos aos movimentos do Peixoto, que ia de um lado a outro, pra cima e pra baixo.
As mães entoavam em conjunto quando perguntávamos o que peixe faz no mar: “NADA, NADA, NADA!”.
No final, pudemos dar o diagnóstico de cada um deles: estavam todos girando bem da cabeça. Bom, né não?
Peixoto tem tantos artifícios que nos deixou de queixo no chão. Sabe o que esse danadinho fez? Pois eu vou contar:
Assim que chegamos na UTI, ele passou na nossa frente e pediu pra esperar um pouco. Ele foi entrando de mansinho, deu uma espiadinha e voltou pra nos contar que a Clarinha estava acordada.
Então combinou que ia conseguir chegar perto dela e ainda por cima ganhar um beijinho. Nesse dia, estava eu e Dra. Muskyta. A gente riu e duvidou de tamanha ousadia e pretensão daquele peixinho.
Logo a Clarinha, que quando nos via fazia cara de choro e acenava que não com o dedinho. Ele fez uma cara de quem diz “quer-ver-uma-coisa?”, e saiu pela UTI dando beijinho nas médicas, enfermeiras e técnicas – sim, porque nessa hora todo mundo parou o que estava fazendo pra ver como aquela história iria terminar.
A Clarinha foi ficando cada vez mais animada. Então, quando perguntaram se ela também queria um beijinho do Peixoto, ela confirmou que sim. Foi o maior rebuliço na UTI. Teve gente que tirou foto, teve gente que filmou e tem até gente que ainda não acredita em tamanha façanha.
Então, essa história de dizer que peixe não faz nada não se aplica ao Peixoto. Se também tivesse premiação no hospital, o Oscar do mês de maio certamente seria dele.
Dr. Eu_zébio (Fábio Caio), Dr. Gonda (Tiago Gondim), Dra. Muskyta (Olga Ferrario) e Dr. Wago Ninguém (Wagner Montenegro)