“O que nos faz rir?” Foi a partir desta indagação que o dramaturgo Luis Alberto de Abreu desenvolveu uma conversa na última semana na nossa sede.
Luis Alberto de Abreu é dramaturgo e roteirista, autor de mais de sessenta peças teatrais. Desenvolve roteiros para cinema, microsséries e, mais recentemente, colaborou para a novela Velho Chico.
Já falamos aqui sobre o riso e sua passagem pelo tempo. Diante de uma plateia cheia, o dramaturgo trouxe a ideia de que o riso é uma atividade humana, fundamentalmente desorganizada, desestruturada.
“A postura de quem ri não tem padrão, pois o riso é caótico. É uma expressão de alegria, rimos porque estamos relaxados e estamos relaxados porque vivemos em grupo, em segurança, desde a revolução agrária.”, iniciou ele.
O riso também pode ser agressivo. Para o filósofo Mikhail Bakhtin, o riso é um instrumento de combate ao autoritarismo, à intolerância e à falsa moral da sociedade. Durante a Idade Média, rir era subversivo, era um ato de rebeldia, uma característica essencial da cultura popular – e, por isso, vulgarizado. “Mas nos períodos de colheita, que também eram períodos de festas, o sagrado se unia ao profano. A seriedade convivia com o riso.”, aponta Luis Alberto.
O dramaturgo analisou as obras do filósofo francês Henri Bergson, que propõe que o riso tenta coagir certas manifestações potencialmente nocivas à sociedade. Segundo ele, tudo o que é mecânico, rígido e repetitivo – principalmente em nosso corpo – é material para o riso. Basta lembrar-se de cenas de palhaço. Quantos deles possuem um andar que foge das nossas expectativas? Pois o riso seria justamente uma frustração da nossa expectativa.
O médico neurologista Sigmund Freud também foi alvo da conversa. “Freud acreditava que o riso é uma liberação de neuroses e só existe porque a sociedade reprime nossos instintos primários. O riso é a liberação de alguma repressão. Vamos ao teatro e vemos o que não fazemos em público, vemos a repressão ali ilustrada, e então damos risada daquela situação.”, argumenta ele.
Outras características inerentes ao ato de dar risada estariam relacionadas à parte inferior do corpo humano, a partir da barriga. Assim, também estariam ligadas à comida, às excreções, ao sexo.
O estudo do riso é amplo e a palestra trouxe uma pequena e importante dimensão dele. Há muitos materiais e livros sobre o assunto na Midiateca dos Doutores da Alegria, localizada em nossa sede, em São Paulo. É possível consultá-los agendando um horário pelo telefone (11) 3061-5523.