Dia desses estávamos no corredor, eu (dra. Mary En) e a dra. Baju, e nos deparamos com um menino de mais ou menos seis anos, o T.
Ele estava saindo da sala de curativos e indo para uma enfermaria, estava bem machucado no olho e no rosto e nos olhou meio de soslaio. Olhei pra ele bem no fundo do olho e ele me olhou como se nunca tivesse visto uma palhaça. Ali já senti que era um encontro pra lá de especial.
Já na enfermaria, quando o atendemos, fizemos algumas bolhas e delas tiramos uma lua de cristal. Pedi pra ele segurar a lua. Mas é claro que como todo besteirologista, a lua na verdade tinha ficado no meu bolso e na mão dele apenas uma lua imaginária.
Meia hora depois estávamos lavando as mãos quando ele e mais dois meninos se aproximaram e um deles falou:
– Mary En, ele perdeu a lua!
Nesse momento ele olhou pra mim e me mostrou a mãozinha fechada, como se estivesse ainda com a lua na mão. Imediatamente peguei a lua de cristal do bolso, sem que eles vissem, e pedi ao T. que me entregasse a lua. Ele abriu sua mão dentro da minha e a lua de cristal estava lá. Então eu falei:
– Não, ele não perdeu a lua, olha ela aqui!
Os outros meninos olharam admirados, de boca aberta. Dei uma piscadela pro T. e fui embora, bem feliz com este encontro. Nesta vida há a urgência de sermos cúmplices nas coisas boas e que fazem bem. O garoto me mostrou isso.
Dra. Mary En (Enne Marx)
Hospital da Restauração – Recife