Na última semana de dezembro, ainda em 2022, eu e Dr. De Dérson tivemos um encontro memorável na enfermaria 351 do Hospital M’Boi Mirim, em São Paulo. Deixou saudade e, por isso, compartilho com vocês nesse comecinho de 2023.
Entramos na enfermaria tocando “Meu limão, meu limoeiro, meu pé de jacarandá”. Lucas, 15, que estava deitado com o pé engessado, prontamente se manifestou.
– Não fala de pé que eu lembro que meu pé está quebrado, gente.
– Poxa, Lucas, desculpa, foi mancada nossa – respondi constrangido.
– Não fala em mancada pois eu estou mancando – retrucou o rapaz.
A situação piorou e De Dérson entrou na conversa:
– Se manca, Dr. Cavaco. Toca outra música aí e muda de assunto!
– “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é, ruim da cabeça, ou doente do pé…”
Lucas caiu no riso. Não era possível que eles seguissem com aquela palhaçada.
– Toca outra música, tenho fé que vocês conseguem!
– “Andar com fé eu vou, pois a fé não costuma falhar” – emendei essa e Lucas gargalhou.
– Eu não estou podendo andar, gente! O que é isso, vocês não acertam nunca!
Concluímos que era melhor tocar sem cantar. Só assim Lucas ficaria satisfeito. E deu tão certo que ele até arriscou dançar deitado com um pé só. Então nos despedimos.
– Desculpa Lucas, não sabia que você estava com o pé engessado. Pensamos que era uma bota que você ganhou de Natal e tinha perdido o outro pé.
– Que isso gente… Tem coisa que só rindo pra não chorar!
E, assim, demos no pé.