Às vezes, sem querer, os palhaços acabam ajudando os pais ou os profissionais de saúde do hospital. Casos como esse acontecem sempre no Instituto de Tratamento do Câncer Infantil, em São Paulo, devido à parceria da equipe de saúde com os palhaços. Lembram da vez que a Pororoca deu a notícia da alta para a Mina?
Bom, dessa vez aconteceu comigo e a Dra. Nina Rosa. Entramos no quarto do Rafa. Assim que abrimos a porta, vimos a mãe tentando fazer ele beber água. Cada tentativa era recusada. Ele fechava a boca, virava para o lado, fazia “não” com a cabeça. E a gente ali do lado só olhando, esperando o Rafa beber a água pra começar a intervenção.
A mãe, percebendo que o filho não beberia a água, colocou o copo de lado.
Entendemos e começamos o atendimento. Rafa olhava atento, mas não interagia muito e não ria, até que Nina Rosa começou a saracotear dentro do quarto, esbarrando em tudo, batendo a cara na porta, toda atrapalhada. O menino começou a rir, depois a gargalhar, e deu tanta risada que se engasgou.
Mais que depressa, Nina Rosa pegou o copo de água da mesa e deu para o Rafa se desengasgar. E ele bebeu tudo.
Na visita seguinte, Rafa ainda estava hospitalizado e assim que entramos no quarto encontramos o fisioterapeuta lá dentro. O menino estava deitado na cama segurando o celular. Olhou pra gente de rabo de olho, no melhor estilo “um olho no gato e o outro no peixe”. Sua mãe tentou tirar o celular, mas sem sucesso. Brincadeira vai e brincadeira vem, o fisioterapeuta tentou dobrar o joelho do Rafa e ele resistiu.
Nessa hora saquei meu roi-roi – um instrumento besteirológico que faz som de porta rangendo.
Comentei que o roi-roi era um alto-falante do joelho do Rafa. Então a cada dobrada do joelho, eu fazia o barulho rangendo com o instrumento, e nisso o Rafa foi fazendo a fisioterapia que nem queria e a gente brincando com os sons.
– Ô Nina, você é tão esperta, mas nem sabe fazer o som que o joelho do Rafa faz! – cutuquei.
– Não tô nem aí… – Nina deu de ombros.
O fisioterapeuta, observando a cena, aproveitou a deixa. Criou a “fisioterapia do tô nem aí” nos ombros do Rafa, que fez o procedimento com um sorriso no rosto. Chegamos à conclusão: Muito atrapalha quem nunca ajuda.