A Besteirologia já faz parte do quadro profissional dos hospitais em que atuamos.
No Instituto da Criança, onde a dupla Emily e Xaveco faz suas visitas, isso é uma realidade, e as duas besteirologistas estão cada vez mais misturadas à equipe médica. Normalmente elas atendem somente antes ou após os procedimentos, mas são acionadas por profissionais de saúde quando preciso.
Em um dia desses, ao chegar à Pediatria, ouvimos gritos e choro no quarto do R., um lindo menino de um ano e quatro meses que, devido ao longo tempo de internação, acabou tendo uma relação muito amorosa conosco.
Não entramos no quarto por saber que havia um procedimento delicado tomando forma ali. Acontece que a mãe do bebê ouviu a música que tocávamos de mansinho no corredor… E aproveitando uma pausa da enfermeira, pegou R. no colo e o levou até a porta do quarto. Nossos olhares se cruzaram. Percebemos o “pedido de socorro” e nos lembramos de que o bebê costuma se acalmar com as bobisses de Xaveco e Emily.
Imediatamente entramos em ação, tirando dos bolsos dos jalecos e do nosso repertório quase tudo de que ele gosta. Apesar de muito estressado, claramente ele demonstrou que nos queria por perto. As enfermeiras voltaram, mas não conseguimos nos afastar. Ficamos ali, observando, hora em silêncio dolorido, hora intervindo. E apesar do choro do menino, quando ele encontrava o nosso olhar e nos ouvia, tornava o doloroso e corajoso trabalho das enfermeiras um pouco mais leve.
E quando tudo acabou, ele mais calmo, a mãe sem lágrimas nos olhos, deixamos o quarto. Mas aquele dia não foi mais o mesmo… Os gritos ficaram alojados em nossos corações.
Palhaça chora, palhaça sofre, palhaça é gente que ama muita gente.
Dra. Xaveco Fritza (Val de Carvalho)
Instituto da Criança – São Paulo