Já ouviram aquela: “Mãe é tudo igual”? Pois bem, as mães que encontramos nos hospitais merecem um estudo aprofundado. E foi o que fizemos.
Acreditem: cada ala do hospital tem sua mãe característica. Em comum, elas têm força e dedicação. Algumas nos provocam, outras desconfiam, muitas nos pegam emprestado e brincam feito crianças. Em homenagem ao Dia das Mães, vamos apresentar quatro tipos mais frequentes que estudamos.
Mãe da neonatal
Tem cara de sono e dorme na primeira oportunidade. Se a gente não tomar cuidado, pode dormir no meio do atendimento. Não entendemos o motivo, pois aqueles anjinhos vivem dormindo, não choram, não comem feito pintinhos, não fazem caquinha na fralda, não dão o menor trabalho…
Mãe da enfermaria
Divide espaço com outras diversas mães. Todas se chamam pelo nome (“Olha, Ana, os palhaços estão mangando de tu!”), conhecem as preferências umas das outras (“Toca sofrência, palhaço, que ela gosta!”) e entendem muito de Psicologia Social (“Foi aquela ali que falou, palhaço! Ela é barraqueira!”).
É a mais animada, falante, dançante e implicante. Não sabemos bem como ela desenvolve essa capacidade, mas consegue simultaneamente arrumar o cabelo, passar sermão no marido, trocar fralda, falar ao celular com a comadre, prestar atenção no que estamos fazendo e, se desconfiar que estamos falando dela, pode, do nada, correr atrás da gente. Ou seja, precisamos estar sempre alertas!
Mãe do canguru
Está sempre às voltas com as seringas de leite. Típica mãe do “coma só esse pouquinho, meu filho”. Todas as vezes que chegamos lá, está alimentando o bebê. Agora sabemos de onde vem essa coisa das mães sempre acharem que os filhos estão magrinhos e precisando comer mais: vem lá do canguru.
Ah, sim, todas as “canguretes” amam usar um sutiã gigante especial onde carregam os bebês. Já virou moda por lá.
Mãe da UTI
A mais silenciosa… Quando está lá dentro.
Contudo, outro dia encontramos com a… Bem, vamos poupar a sua identidade, chamaremos de Celinha. Encontramos a Celinha sentada em uma cadeira, apartada de todos, num canto da UTI. Estava de castigo, entendemos logo. Fizemos exames e liberamos a Celinha para o convívio social! Quando estão do lado de fora, as mães da UTI se juntam em grupos que parecem reunião de bazar.
Mãe quebrada
É a mãe que acabou de perder seu filho. Não sabemos outro nome para designar essa mãe, porque quando a olhamos podemos ver um vaso partido, quebrado em mil cacos. Por uma força inominável, ela não se desfaz. Não sabemos narrar essa mãe, temos ausência de palavras.
Mas Eliane Brum, escritora e jornalista, achou palavras no escuro do silêncio:
“Só naquele momento, ao apalpar a dor das mulheres cujas crianças viveram mais no seu desejo do que na vida, alcancei a soleira da dor da minha mãe por aquela filha (já morta). Maninha não tinha vivido apenas cinco meses, já que o tempo de um filho não se mede por dias, meses ou anos. Um filho é mundo sem tempo. Eu estava diante de mulheres empaladas pela dor. O resto era mal-entendido. Há mal-entendidos demais numa vida humana.” (Meus Desacontecimentos, de Eliane Brum).
Uma homenagem a todas as mães. Iguais ou não.