I., um rapazinho de 4 anos, bem risonho, já era paciente antigo do Centro de Oncologia do Hospital Oswaldo Cruz.
Dra. Tan Tan, você está muito fedida, entra e vai direto pro banheiro tomar banho! HAHAHA!
Eu, Dr. Cavaco, fingi que sentia o cheiro e tapei o nariz, dizendo com voz fanha:
Credo, Tan Tan, é verdade! Chispa pro banheiro e vai lavar esse sovaco!
A besteirologista começou a chorar e o garotinho ria cada vez mais.
Arrastei a coitada até o banheiro da “suíte” do I. e ela fingiu que estava tomando banho.
Tan Tan! Se lava direito!, gritava o menino de sua cama.
Tô lavando!
E o chuveiro que eu não estou ouvindo? Pára de me enganar e abre esse chuveiro pra se lavar! HAHA!
Ela abriu o registro de água e deixou a porta do banheiro um pouco aberta. De repente começaram a sair bolhas de sabão de trás da porta.
A Tan Tan engoliu o sabonete e está arrotando bolha! Nossa!, disse eu, narrando de fora o que acontecia no banheiro.
O menino ficou encantado, brincando com as bolhas e acreditando no banho de Tan Tan. Alguns minutos depois ela saiu de banho tomado.
Tan Tan, vem aqui pra eu ver se você está cheirosa! – e no que a palhaça se aproximou – Tá fedida ainda! Volta lá pro banheiro!
E lá foi Tan Tan chorando, ainda fedida. O menino ria cada vez mais. Depois de mais algumas bolhas, Tan Tan voltou a fazer o teste do cheiro e I. deixou que nós fôssemos embora.
Uma semana depois encontramos com ele no estacionamento do hospital, no colo de sua mãe. O seu pai dele tinha ido buscá-lo para passar um dias em casa, dar uma pausa no tratamento. Enquanto seu pai subia para pegar as malas no quarto andar, nos aproximamos.
Cavaco, Tan Tan! Venham andar no meu carro!
Não pensamos duas vezes e fomos correndo até o carro. Eu fiquei no porta malas e Tan Tan foi sentada no banco do passageiro. A mãe do garoto ia no banco do motorista com ele no colo.
Fechamos as portas e ele começou a “dirigir”. Aumentou o som bem alto, girava o volante, buzinava e ria enquanto eu e Tan Tan ficávamos balançando e dançando no carro acenando para as pessoas. Todo mundo que passava parava pra ver. Foi a viagem parada mais emocionante que fiz em minha vida.
E aquele foi nosso último encontro. Cinco dias depois tivemos a notícia de que I. tinha virado uma estrelinha… Encantador de ver a sua alegria e a alegria de seus pais – e de tantos outros que estão em tratamento – que mesmo nas fases mais difíceis fazem de tudo para manter o bom humor.
Dr. Cavaco (Anderson Machado)
Dra. Tan Tan (Tamara Lima)
Hospital Oswaldo Cruz – Recife
Maio de 2013