Entrar na UTI do IMIP é como abrir uma caixa de bombons. A gente vai abrindo a porta às segundas e já pensando no que pode ter acontecido desde a nossa última visita, na quarta-feira da semana anterior.
As surpresas são muitas! Tem desde mudança de enfermaria, passando por crianças chegando, voltando ou recebendo alta, até correrias por causa de um “bip” fora de hora. O fato é que a gente vai se relacionando com a garotada que, muitas vezes, passa um longo período naquele setor.
– “Será que Raí está aí ou recebeu alta?” – questionamos logo na porta de entrada.
– “Bom dia, doutora. Tudo em ordem por aqui?”
– “Oi palhaça e palhaço, bom dia! Tudo caminhando, na medida do possível. Hoje vocês podem entrar em todos os quartos da UTI. Não temos caso de isolamento”
– “A gente tá procurando Raí”
– “Ah, olha ele ali…”.
O garoto não tinha passado por dias bons. Deu alguns sustos em sua mãe e em seu pai. Também ficamos bem apreensivos e torcendo por sua recuperação. Nesse dia, encontramos o pai do garoto sentado ao lado do leito. Raí estava de olhos fechados, conectado a um monte de fios, máquinas e porta soro.
– “Olá, a gente pode entrar?”
– “Pode”.
O pai estava sentado, acompanhando atento a recuperação do filho. Olhou para nossas roupas, viu minha calça verde folgada, minha corda de violão rosa e o vestido laranja com roxo da Dr. Nana. Tudo era muito delicado e o silêncio foi a melhor solução. Ele sentado olhando pra gente e a gente olhando pra ele. Até que o pai solta a seguinte frase:
– “Meu filho perguntou por vocês antes da cirurgia”
– “Ah, a gente também pensou muito nele. Inclusive, hoje a gente veio com essas roupas pra encontrá-lo. Onde o senhor mora?”
– “Em Paulo Afonso”
– “Ah, onde tem o Rio São Francisco, o rio que vai bater no meio do mar!”
Ficamos bem felizes por ver Raí, foi uma surpresa boa para o nosso dia. De fato, ele tinha deixado a gente preocupado e foi muito bom encontrá-lo. Vimos até o sorriso de canto na boca do pai.
São tantos tipos de bombons nessa caixinha que é a UTI: tem os compridos, os mais redondinhos, alguns com casca crocante, sabe? Mas, com habilidade, conseguimos quebrar a casquinha e chegar na parte fofinha e doce do chocolate. A variedade é grande e a nossa sorte também, já que podemos provar diversos sabores.
Tem o “Taleito”, o “Prestígio do Médico”, o “Soronut”, “Sonho de Válvula”, “Serenata de Mãe”, “Alpai” e “Ouro Branco” – ou “Enfermeira”, como queira chamar -. Tem até um “Bis”, desde que não seja de injeção.
Todo dia ao entrarmos na UTI vamos direto ao balcão das enfermeiras:
– “E Rai?”
– “Tá seguindo…”
– “Rafa?”
– “Pode entrar na enfermaria dela, saiu do isolamento”
– “E Gabriel?”
– “Eita, Gabriel partiu de madrugada. Mas foi tudo muito tranquilo”
Às vezes, dá trabalho encontrar aquele bombom que a gente mais gosta na caixa. A gente procura, revira e nada. Até que a gente pergunta pelo dito cujo e alguém dá a notícia dele: “está guardado” ou “está com uma nova embalagem” ou, até mesmo, que aquele bombom “não vem mais na caixa”.
Dr. Nana (Ana Flávia) e Dr. Marmelo (Marcelo Oliveira)