Dra Greta e Dr. Valdisney começaram a prestar atenção nos sonhos espalhados pelo Hospital do Mandaqui.
A palavra tem muitos significados: um produto da nossa imaginação, um desejo muito forte, uma ilusão e até um pãozinho fofo com creme dentro. Os estudiosos contam que os sonhos, esses que a gente tem quando dorme, servem para recuperar a saúde do organismo e do cérebro.
O J.M., em seus quase dois meses de internação, teve tempo suficiente para montar um time de futebol com os melhores do mundo, e ele fez isso testando um a um, cada jogador, em seu videogame. Seu sonho sempre foi comandar um time dos sonhos… E foi no campo adversário – o hospital – que ele conseguiu.
O R. e o J. sonharam que podiam ser melhores amigos. Passaram um bom tempo juntos no quarto 306. Seus pais contaram que nesse período compartilharam tantas ideias, conversas, partidas de videogame, histórias e que se identificaram tanto, que o sonho se realizou: viraram amigos de fé. No dia em que R. recebeu alta, mal conseguimos atendê-los, porque tanto R. como J. choravam compulsivamente, e ainda que morassem no mesmo bairro, e seus pais houvessem prometido que os levariam para visitar um ao outro, nenhum deles se conformava com a separação. O hospital acabou sendo palco de uma convivência ímpar.
Para as mães e pais que acompanham suas crianças, o ambiente hospitalar é esgotante… Pouco sono, apreensão, sofrimento, estresse, afastamento da família. Seu maior sonho é voltar para casa, mas isso não depende deles, como também não depende de nós, besteirologistas… Mas como sempre temos um remédio escondido nos bolsos de nossos jalecos; intervimos para minimizar esta tensão. Nos quartos de internação da Pediatria infalivelmente escutamos o barulhinho do inalador… Tchiiii, tchiiii, tchiii… E é igualzinho ao da panela de pressão. Então propusemos à diretoria do hospital que orientem os médicos a prescreverem inalação com cheirinho de feijão, assim as mães podem sonhar que estão em casa e que a comida já está no fogo, o que as deixaria bem relaxadas. A proposta foi aceita por unanimidade e considerada genial.
No Mandaqui está também o nosso sonhador mor, o Mateus. Ele nunca havia saído da UTI, seu sonho era ver a lua, e viu. Depois sonhou em ir ao cinema, e foi. Aí começou a sonhar em ser um artista, pintou uma série de quadros, e teve seu vernissage. Hoje ele tem até professor particular de pintura. Mateus sonhou também em escrever um livro; juntou o útil ao agradável e, em parceria com seu professor, produziu um gibi, uma ficção científica, cujos personagens são inspirados em pessoas do hospital. Seu mais recente sonho é lançar seu “livro-gibi” e, quem sabe, transformá-lo em desenho animado para TV. Se vamos sonhar, vamos sonhar grande, né?
E depois de tantos sonhos, qual será o nosso? O dos besteirologistas do Mandaqui? Bom, há vários… Valdisney sonha o tempo todo em ficar rico, em ter cabelo, em emagrecer e em se parecer com o Brad Pitt; já eu, Greta, sonho em arranjar um marido, em arranjar um marido, em arranjar um marido e em arranjar um marido.
Mas o que sonhamos juntos? Ah! Nisso não discordamos! Sonhamos em um dia chegar ao hospital e o encontrarmos vazio, absolutamente sem nenhuma criança para ser atendida por não haver mais crianças doentes no mundo…
“Agora eu vou sonhar
Eu vou sonhar maior
E cada sonho meu
Há de criar-se ao meu redor”
Dra Greta Garboreta (Sueli Andrade)
Hospital do Mandaqui – São Paulo