A criança é o foco do nosso trabalho, a protagonista das muitas histórias que escrevemos juntos nos hospitais. Mas nesse enredo tem outras personagens que ajudam a compor as histórias: os familiares.
A maior parte das crianças fica acompanhada de suas mães durante seu tratamento. Mães que param a vida lá fora, que mal têm tempo para se cuidar, que dormem em poltronas gastas pelo tempo – este que às vezes teima em não passar.
Pois são essas mães que confiam em nosso trabalho e abrem caminho para que possamos brincar com seus filhos. Sabem, inconscientemente (ou não), que esses encontros contribuem significativamente para a saúde deles. Essas mães são o ponto de partida de encontros que rendem boas gargalhadas, pequenas descobertas ou apenas uma troca de olhares. Podem ser o ponto final de algumas histórias que não gostaríamos que terminassem… Assim é, a vida tem mesmo um enredo imprevisível, nos obriga a viver o tempo presente.
Dezenas de mães compartilharam conosco histórias vividas com seus filhos e filhas nos hospitais Brasil afora. Histórias reais, tocantes, sensíveis, inspiradoras. A vida como ela é. Agradecemos pela coragem!
Marlene Riguete e Fernanda – Minas Gerais
“Fernanda nasceu aos sete meses e duas semanas devido à minha gestação complicada e a uma pré-eclâmpsia. Mas isso foi fácil, sobrevivemos facilmente! Depois é que foi um pouco mais difícil…
Aos três anos e três meses foi diagnosticada com leucemia “LLA”. Minha guerreira mais uma vez deu um show de fé, coragem e determinação, passou por todo o sofrimento do tratamento e complicações até os seis anos de idade. A cada novo dia, minha pequena amanhecia com um sorriso ainda mais vibrante e sempre dizia: Papai do Céu já me curou!
Moramos no interior de Minas Gerais e o tratamento é na Santa Casa de Misericórdia em Belo Horizonte, a seis horas da nossa casa. Às vezes íamos e voltávamos uma vez por semana, no mesmo dia, no carro da Secretaria de Saúde. Outras vezes íamos e passávamos uma temporada por lá, ficávamos na Casa de Apoio Aura, que nos acolhia com muito carinho e muito nos ajudou e nos ajuda até hoje. Deus mais uma vez foi misericordioso e a livrou do transplante. Fez três anos consecutivos de quimioterapia, caiu o cabelo por duas vezes e hoje, aos 9 anos, graças a Deus está curada, linda, inteligente e tem vida completamente normal.Adorava receber a visita dos Doutores da Alegria. Parabéns pelo lindo trabalho de vocês, que é levar diversão e alegria a todas as crianças e a nós, pais, também, pois nos ajuda a esquecer um pouquinho do lugar em que estamos e da batalha que enfrentamos!
Agradeço a Deus todos os dias pela cura da minha filha e por ter permitido que eu fosse e continuasse sendo mãe dessa guerreira tão especial na minha vida! A história é longa, mas a vitória é maior ainda!”
Ligia Maria Ribeiro Delmont e Beatriz
“Bom dia!” Palavra que significou muito nos 11 dias de internação da Beatriz, filha amada que na época tinha dois anos e cinco meses de vida.
Bia, assim chamada desde a barriga pelos irmãos Lucas e Giovana, precisava de uma correção no coração. Desde o nascimento se apresentava diferente, e com muitas idas e vindas a diferentes pediatras, chegou-se ao cardiologista que sentenciou: cirurgia para correção de PCA. Esse nome bonito nos assustou. Após correria com convênios, reconciliações familiares (porque quando filho precisa, a gente passa por cima de qualquer orgulho ou diferença) e o acolhimento de todos (porque quando criança precisa, a família e amigos se compadecem), conseguimos a internação. Despedimos dos irmãos, pai, tio e avós e lá ficamos em nosso quarto, transformado em lar. Fotos pela parede, bichinhos e cobertinhas preferidas, sopinha da vovó, visitas queridas, intercalados a muitos exames e orientações.
A cada dia acordávamos e eu falava: “Bom dia, flor do dia, hoje mais um dia de alegria, folia, fantasia e magia!” E assim seguíamos confiantes, ligando para os irmãos e reportando o dia de folia e magia.
Enfim a cirurgia… O que dizer? Força e fé inabaláveis com o real entendimento do Pai Nosso: “…seja feita a Tua vontade aqui na terra como nos céus…” Difícil, desafiador, muitas lágrimas escondidas, muito medo guardado e muita aceitação sendo construída em meu ser.
Cirurgia, UTI, retirada dos pontos… Conviver com a saudades dos filhos/irmãos, da rotina tão prazerosa, porque quando se está no hospital sonha-se com a correria do dia a dia, dos bons dias de cara amassada, das refeições com todos, do preparo do lanche para a escola, uniformes, verificar agenda pra poder encaixar atendimentos com horário dos filhos… Ufa! Que doce e viva correria!
Depois foi sair do hospital e agradecer por todo o carinho e atendimento recebido, ver que existem pessoas maravilhosas que fizeram a estadia ser um imenso crescer de vida e consciência. E voltar à rotina da vida com a certeza de estarmos todos mais fortes e cientes da finitude da vida, da real importância de valorizarmos cada momento juntos e da alegria que é agradecer a cada dia vivido. Bom dia! Boa vida!”
Feliz Dia das Mães! <3
+ Você sabia?
Doutores da Alegria atua em hospitais públicos há 23 anos e precisa de doações para manter seu trabalho junto a crianças hospitalizadas, seus familiares e profissionais de saúde. Faça parte desta causa, doe aqui: www.doutoresdaalegria.org.br/colabore.