Tem coisas que ouvimos que tocam tão fundo que parece que foi a gente que pensou!
Os hospitais que tratam crianças com câncer não podem ser percebidos somente pela crueldade da doença, pela dor que a perda nos gera com cada criança que vira estrela, cada criança que se cura; mas também pela poesia que permeia toda essa realidade e nos dá cada vez mais ganas de continuar.
Poesia que vemos na importância consciente de cada pessoa que cruzamos nos corredores do hospital, nos escritórios, na cozinha, nos consultórios, nas portarias. O olhar dessas pessoas está lotado de poesia!
Tem poesia também num parceiro de trabalho que se emociona quando uma mãe chora na UTI pelo simples fato de estarmos ali. Ele, mais do que ninguém, sabe que a nossa cirurgia é poética.
Palavras têm que fazer sentido e, cotidianamente, ficamos presos na obrigação do sentido das palavras e atropelamos o silêncio que fala muito.
Crianças são passarinhos! Crianças somos flores!
A pequena C. desabrocha como a flor mais linda quando nos vê, viramos clorofila! M. me poetizou num fato lindo, um acontecimento histórico, mas ainda é segredo e não posso dizer, se você olhar nos meus olhos e nos do Dr. De Derson você descobre… Palavras estimulam a curiosidade. O silêncio revela.
Às vezes passamos montados em cavalos de nuvens, às vezes como uma bateria de escola de samba. Temos que perceber com muita delicadeza esse universo poético.
“O mundo está um caos” ouvimos, lemos e assistimos num barulho ensurdecedor, diariamente. Precisamos descobrir silêncios ativos para transformar a nossa vontade e realidade de um mundo mais poético e simples!
Precisamos aprender a ver a vida como a K., que desafia todas as dores quando se abre para sorrir, e contagia sua mãe, que jamais vai desistir de lutar, mesmo sem o uso das palavras.
O mundo está triste com terrorismos, doenças, ganâncias políticas…
Sejamos o antídoto, sejamos mais poesia!
Dr. Daduvida (David Tayiu)
Instituto de Tratamento do Câncer Infantil – São Paulo