Foi em um dia de eclipse, onde o sol encontra a lua, que encontramos o Miguel. Ele, com seus 8 anos, estava deitado na cama, emburrado e com a cara fechada. A nossa chegada no quarto não causou nenhuma mudança em seu humor e, curiosos, fomos perguntar para mãe o que tinha acontecido.
Ela nos disse que ele estava triste porque não ia poder ver o eclipse naquele dia. Ele estava estudando os planetas na escola, as estrelas, o eclipse e justo na semana do encontro da lua e do sol, ele precisou ser internado.
Tentamos de tudo para interagir com ele, mas não teve jeito. Fui para casa pensando o que poderia ser feito. Pensei em filmar para mostrar pro Miguel mas o céu estava tão nublado que foi impossível visualizar o eclipse a olho nu da minha casa.
Enquanto refletia em casa, me lembrei de duas lanternas que eu tinha, uma de luz amarela e outra de luz branca. Assim, coloquei o sol e a lua na mochila e, no dia seguinte, fui para o hospital fazer nosso plantão besteirológico como de costume.
Quando chegamos no quarto do Miguel, ele nos viu e, mais uma vez, virou para o lado, como se não quisesse papo. Então eu disse:
– Dr Pistolinha, você sabia que hoje vai ter outro eclipse no Brasil?
– É mesmo, Dr. Cavaco? E dá pra ver aqui do Hospital?
– Dá, sim! E ouvi dizer que o melhor lugar para se observar vai ser no quarto do Miguel.
Oi, senhora, você sabe me dizer onde fica o quarto do Miguel? Então, a mãe respondeu sorrindo:
– É aqui mesmo!
– Eba! Que legal! Que sorte a nossa estar aqui! Parece que vai começar às 10h35. Que horas são, Dr. Pistolinha?
– São 10h35, Cavaco! Vamos apagar a luz para ver melhor. Posso apagar, Miguel?
O menino, que já nos olhava curioso, permitiu que a luz fosse apagada e ficou esperando o eclipse conosco. De repente, o sol apareceu no teto do quarto, foi se movimentando pelo espaço até que encontrou a lua saindo do banheiro.
O sol perseguiu a lua por todos os cantos, e ela sempre fugindo. Dr. Pistolinha narrou a perseguição como se fosse um jogo de futebol, enquanto Miguel ria da situação. A Lua foi parar na cama do menino, acreditam?
Miguel pisou na lua, se movimentou em câmera lenta, pegou ela, jogou de um lado para outro, fez malabares e enquanto brincava com ela, chamou o sol para sua cama também.
O astro foi se aproximando devagarinho e finalmente se encontrou com a lua. Os dois juntos subiram para o teto do quarto e ficamos contemplando por um tempo o sol e a lua dançando juntos.
Teve até uma enfermeira que parou para ver o eclipse conosco. Assim, com o sorriso do Miguel aberto, abrimos a porta do quarto para lua sair, o sol saiu pela janela e nós saímos contentes por termos visto o primeiro eclipse em um quarto de hospital.