Dois casos diferentes de crianças ilustram muito bem como é o dia a dia no hospital e as múltiplas situações que encontramos em cada visita. A atriz Luciana Viacava relata os casos no papel da besteirologista Lola Brígida e traz a perspectiva de que, para atuar, o artista precisa estar ausente de si para estar presente no personagem; estar vazio por dentro para ser preenchido pela emoção da plateia – ainda que, no hospital, o público seja uma criança na enfermaria.
Caso 1
No corredor da Pediatria, no Hospital do Campo Limpo, em São Paulo, encontramos dois meninos pequenos acompanhados de suas mães. Aguardavam ser chamados.
Um deles brincava com um carrinho e, em meio a um movimento brusco, na dificuldade de se equilibrar, acabou caindo no chão e ficou com aquela cara de choro-não-choro. Mais do que depressa eu e Dr. Chicô nos jogamos no chão. A gente sabe que chão de hospital é o lugar mais infectado do mundo, mas não podíamos perder o jogo, então arriscamos…
Ficamos os quatro sentados no chão, em roda, um olhando para a cara do outro.
O menino não sabia se chorava ou se ria, até que resolvemos sair juntos daquela situação: nos demos as mãos e fomos levantando devagarzinho, até que todos estivéssemos de pé. O menino, ao perceber que não estivera sozinho, abriu um sorriso para a mãe.
Nós ganhamos o dia! E fomos direto tomar um banho de álcool gel!
Caso 2
No Berçário, conhecemos um bebê recém-nascido chamado RN de Helena*.
Ele passou a se chamar Danilo* desde que sua mãe o deixou no Hospital do Campo Limpo e não mais voltou. Danilo virou o xodozinho de toda a equipe e uma médica veio nos contar que ele iria para um abrigo assim que saísse do hospital. Geralmente quando nos deparamos com uma situação dessas, pensamos que a mãe não tinha amor pelo filho.
– Como pode abandonar uma criança desse jeito?, pensamos.
E uma enfermeira, muito amorosa, respondeu:
– É! Essa mãe ama muito essa criança! Ela sabia que não teria condições de cuidar dele, por isso deixou-o aqui, sabendo que ele receberia os devidos cuidados…
Achei muito bonito o que ela disse. Hoje Danilo não está mais por lá e esperamos que ele encontre um lar, uma família e que receba muito amor e carinho para viver a vida saudável e alegremente.
* nomes fictícios para preservar as identidades da mãe e da criança