L. é paciente nosso e está internado na ala dos isolamentos. Ele tem um problema bem grave de pele. Ultimamente, não temos conseguido trabalhar com ele, pois ao chegarmos, ou ele está fazendo curativo que toma toda a sua manhã ou está se preparando para o banho, o que também ocupa toda a sua manhã. É um caso bem delicado!
Sua mãe é uma luz. Para mim, o aprendizado de olhar essa mulher sorrindo, de bom humor ao nos ver, já vale pela semana. Ao final do mês, conseguimos entrar no seu quarto. A equipe de enfermagem nos orientou dizendo que ele estava bem mal, que os órgãos estavam sendo afetados.
Ao entrarmos, disse a ele que sentia saudades, pois já fazia um mês que não entrávamos e ele sempre estava ocupado. No que estamos conversando, vejo a sua mãe deitada na cadeira ao lado totalmente coberta e atrás do menino, na cama do quarto, uma perna (que devia ser do pai dele), que nunca tínhamos conhecido. Foi propício brincarmos com o pai.
Disse ao L. que o sofá estava com pernas muito peludas e que nunca tinha visto isso, que poderia consertar o sofá. O garoto disse com uma voz bem fininha que saía de sua boca:
– É meu pai!
Aquilo piorou o nosso entendimento! Achei que era o MEU pai ali folgadão, dormindo em quarto alheio, que isso não se fazia. Foi quando olhei para O L., que esboçava com muito esforço um leve sorriso, dizendo:
– Não! É O MEU PAI!
Bem, sabe como é cabeça: às vezes entende, às vezes não. Saímos do quarto felizes, pois eu, dra. Manela, havia achado o meu pai no quarto do L.! O dr. Pinheiro até tentou falar que o meu pai era o pai dele… Mas aí piorou. Gente, por favor, não me confundam mais!
Ao final do mês, soubemos que o L. nos deixou. Um beijo amoroso em cada pai! Em cada mãe! Em cada filho!
Dra. Manela (Paola Musatti)
Dr. Pinheiro (Du Circo)
Instituto da Criança – São Paulo
Outubro de 2013