Um garotinho miúdo, de palavrinhas enroladas e bem falador. Uma criança marcante, de olhinhos atentos, daquelas pelas quais a gente se apaixona.
Eu o conheci no Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci), semestre passado. Ele adorava quando nos interessávamos por seus brinquedos e gostava de explicar como cada um funcionava – carrinhos, joguinhos e bichinhos de pelúcia.
O semestre passou bem rápido e agora eu, Dra. Greta Garboreta, estou trabalhando no Instituto da Criança com o excelentíssimo Dr. Pistolinha. Dia desses, na ala de internação do convênio, encontramos a brinquedoteca cheia. A não ser pelas crianças que estavam em isolamento, parecia que todas as outras estavam lá, e lá também estava o R., o garotinho que conheci no Itaci. Fiquei feliz em reencontrá-lo.
Depois, quando chegamos no quarto em frente, lá estava ele, sentadinho na poltrona, a nos esperar. Nem bem entramos e ele se apressou em pegar um sapinho de pelúcia que estava ao seu lado.
Dr. Pistolinha: Qual o nome do seu sapo?
R.: Isopor!
Pistolinha: Que nome legal! Porque você colocou esse nome nele?
R.: Porque ele precisava ter um nome!
Pistolinha: (ao ver um robozinho que estava no parapeito da janela) E esse, como se chama?
R.: Esse não tem nome, é brinquedo!
Pistolinha: Ah! O sapo tem nome porque não é brinquedo, né?
R.: É. Ele é meu filho, mas come comida de sapo, mosca!
Dra. Greta: Nossa! Então quando ele crescer, ele vai poder voar, tem tanta asa dentro dele!
O menino parou, como que para refletir sobre o que a Dra. Greta tinha falado, mas não disse nada.
Pistolinha: Ele vai crescer mais?
R.: Vai, um pouquinho assim (e mostrou a beirada da cama). E vai pular muito! (e olhando para Greta) E voar também! Eu vou dar muita comida de sapo para ele crescer.
Pistolinha: Puxa! Ele pode até ser atleta!
Greta: Ele pode até ser pássaro!
R.: É.
Greta: Você é um ótimo pai!
R.: É.
Ah! Esqueci de dizer, durante nossa brincadeira na brinquedoteca, diversas vezes trombamos com as paredes e portas na hora de sair. Esse detalhe é importante para entender o que vem a seguir.
Pistolinha e Greta: Legal R., nós gostamos muito de conhecer o seu filho, agora vamos embora, tá?
R.: Tá!
Greta: Você pode acompanhar a gente. Mas é que toda vez que vamos sair, a gente erra a porta e bate na parede!
Daí aconteceu a coisa mais linda. O menino pegou a mão da Greta, pediu também a mão do dr. Pistolinha e disse:
R.: Eu vou levar vocês até lá na saída, tá?
Pistolinha e Greta: Ai, muito obrigado! Assim a gente não se machuca, né?
R.: É! (sorriso)
E a passinhos lentos, na maior delicadeza, essa criaturinha nos levou à porta de saída e ao fim de nossa jornada naquele dia…
Antes da porta se fechar vimos seu pai, que nos acompanhou calado durante toda a visita, a nos agradecer com os olhos embaçados. Já detrás da porta, eu e Pistolinha somente nos olhamos…
Dra. Greta Garboreta (Sueli Andrade)
Dr. Pistolinha (Duico Vasconcelos)
Instituto de Tratamento do Câncer Infantil – São Paulo
Agosto de 2013