Muito bom começar o trabalho com o pé direito. Dentre tantos encontros especiais, pedimos licença para falar de M.
É uma paciente de uns 12 anos. Encontramos a menina sentada na cama com sua bengala; ela é deficiente visual. Chegamos perto e nos apresentamos como besteirologistas. E então pedimos para que ela colocasse a mão em nosso cabelo, em nosso nariz e, de quebra, em nosso “popô”. Quando descobriu, vejam só, disse que ia lavar as mãos!
– Você quer dançar?, perguntamos.
– Se minha mãe deixar…
– Deixa, mãe, deixa! Dançar não é coisa que se negue, que se proíba!, dissemos formando uma torcida desorganizada.
Sua mãe sorriu e permitiu que dançasse. Não demorou nada para que M. saltasse da cama e mexesse ao som do carimbó.
Braços pra cima, braços pra baixo
Só falta bater a mão, batendo também o pé ♪♫
A menina simplesmente arrasou. Sua mãe tentava conter o vazamento que há pouco havia começado em seus olhos. Tão bom ter conhecido M. Quando fechar os olhos, vou lembrar da menina que, de olhos abertos no escuro, enxergava o arco-íris.