Dr. Valdisney e eu, Dra. Lola, conhecemos o menino Miguel e sua turma no Hospital do Campo Limpo, em São Paulo. Miguel estava no corredor ao lado de outras crianças e muitas mães, super animado, querendo brincar, como se aquele lugar fosse um parque de diversões e não um hospital.
Logo que nos viu, nos chamou para o jogo:
– Vamos brincar de esconde-esconde?
– Bora!!!
Mas Valdisney não entendeu quando Miguel disse:
– Você bate, cara.
E bateu a cara na parede com toda a força, sob o olhar de desprezo do garoto, que deveria estar pensando: “Como este palhaço é burro!”, mas explicou calmamente:
– Você encosta o braço na parede, encosta a cabeça no braço, fecha os olhos e conta até dez.
Aí sim, Valdisney entendeu. Ficamos muito tempo nesse jogo, mas as crianças eram muito rápidas, ganhavam todas. Tentamos os esconderijos mais difíceis: debaixo do pandeiro, atrás do extintor, no telhado da casinha de bonecas, mas eles sempre nos achavam. Até que Miguel falou:
– Vamos pela última vez, vai! Eu deixo vocês ganharem!
E foi assim que descobrimos que somos besteirologistas “café com leite”, como chamavam, na nossa época, as crianças mais novas que não podiam jogar em pé de igualdade com as outras.