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Sobre quem escolheu sonhar

30 de outubro de 2019
Tempo de leitura: 2 minutos

Gabriela Caseff

Editora do Blog. Atua na comunicação da Doutores da Alegria desde 2011 e é repórter na Folha de S.Paulo

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Foi só depois da benção da mãe que Sthefe Julie veio para São Paulo. Ela escolheu sonhar. Se planejou, levantou dinheiro para a viagem e fez contatos na capital paulista, onde aterrissou sozinha aos 18 anos com desejos de menina e desafios de gente grande.

Sthefe Julie nasceu em Manaus e foi criada no interior do Amazonas, na cidade de Presidente Figueiredo, terra das cachoeiras e natureza abundante. Desde criancinha, conta ela, já gostava de uma plateia e se apresentava para toda a família. A relação com a arte foi despertada pela influência da cultura de sua região – o boi, a ciranda e o carimbó.

Colocou o sonho de usar sua arte como ferramenta de trabalho na mala e veio morar no bairro da Liberdade.

Sthefe se deparou com uma cidade que se impõe, que demanda um ritmo que em nada lembra a cadência da sua morada no Norte. São Paulo mais parecia outro país, com outras pessoas, com outra cultura. Para entrar no ritmo, a jovem conseguiu um emprego como caixa em um mercado na região. À noite, fazia bico de garçonete, ofício que aprendeu ainda em Presidente Figueiredo.

Foram dois anos. “Longe da família passei por momentos difíceis, de pertencimento e identidade. Eu me contestei.”, conta ela, que ainda procurava se descobrir. Fez oficinas, alguns cursos, tentou passar na faculdade de Dança. O dinheiro mal dava para cumprir com o aluguel.

Sthefe se mudou para uma pensão, onde dividia sonhos e perrengues com muitos outros migrantes. O jovem Jhuann Scharrye era um deles. De Santa Catarina, Jhuann tinha sido selecionado em um programa da Escola Doutores da Alegria, em São Paulo, para estudar e se tornar palhaço profissional.

“Longe da família passei por momentos difíceis, de pertencimento e identidade.” conta Sthefe Julie sobre sua chegada a São Paulo


Os papos ocasionais se tornaram corriqueiros e logo Norte e Sul estavam unidos bem aqui no Trópico de Capricórnio! “Foi Jhuann quem insistiu para eu participar da seleção do programa!”, lembra Sthefe, que fez a inscrição sem grandes expectativas.

Em 2019, ela foi uma dos 25 estudantes selecionados para a oitava turma do Programa de Formação de Palhaço para Jovens, curso que oferece uma formação profunda e gratuita para quem não teria acesso a um curso profissionalizante de artes. As aulas compreendem o aprendizado de técnicas e linguagens artísticas, e criam a base para investigar com propriedade a máscara do palhaço, que aos poucos vai ganhando estofo, caráter e personalidade.

São dois anos e meio de curso, com oferecimento de uma bolsa-auxílio e acompanhamento de uma assistente social. E em uma avaliação recente com o IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), descobrimos que a cada R$ 1 investido no programa de formação, R$ 2,61 são gerados em benefícios sociais.

Tudo o que Sthefe precisava, lembra ela, era de um espaço para se descobrir. Ela sorri ao dizer.

No Programa, as oportunidades se abriram e a jovem pôde dividir com a turma um pouco da cultura do Amazonas. Formou o grupo CaraColadas com mais duas amigas de sala de aula, Luana Caroline e Giovanna Paixão. Do lado de fora, a jovem já se arrisca em eventos artísticos, dividindo seus talentos com pessoas que encontra nas ruas. “Cantamos forró, baião, xaxado, de tudo um pouco!”, diz.

Sthefe Julie já retornou duas vezes ao Amazonas, onde mata a saudade da família e encontra a arte no contato com a natureza. E mesmo com as dificuldades que encontrou na cidade grande, garante que ainda vai viajar o mundo e conhecer outras culturas.

A coragem ela já tem, só falta mesmo receber a benção da mãe.

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Editora do Blog. Atua na comunicação da Doutores da Alegria desde 2011 e é repórter na Folha de S.Paulo


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Amazonas, artista de rua, desafio, Escola Doutores da Alegria, estudante, Programa de Formação de Palhaço para Jovens

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