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Marcio Douglas
Ator e diretor. Atua como Dr. Mané Pereira na Doutores da Alegria, em São Paulo, desde 2004.
Nosso trabalho dentro do hospital consiste em realizar visitas besteirológicas para os acompanhantes, os profissionais de saúde, o pessoal da segurança e higienização, os escriturários e, principalmente, para as crianças.
E esta visita transita por uma arquitetura que muda a maneira como nos relacionamos com as pessoas.
Uma visita num quarto com apenas um leito é diferente da visita feita numa enfermaria com oito camas, que é diferente de uma UTI, que é diferente de um corredor, que é diferente da escadaria ou elevador.
Mas há lugares no hospital que nosso acesso é proibido ou limitado: os quartos de isolamento.
No hospital onde atuamos há dois tipos de quarto de isolamento, o primeiro é um quarto comum, com a placa do lado de fora indicando o isolamento, o segundo, tem uma arquitetura diferenciada devido ao rigor deste isolamento.
Nesse quarto tem uma antessala para que as profissionais de saúde se paramentem com os EPIs, com um grande vidro e uma porta que dá acesso ao quarto, parece um aquário.
Nossa história é sobre esse quarto.
Era uma terça, já havíamos visitado todos os quartos do nosso roteiro. Paramos no balcão de enfermagem a fim de saber quais crianças poderiam receber nossa visita, se havia alguma restrição ou isolamento, enfim.
A chefe da enfermagem que nos recebeu falou das crianças e das restrições, parou por um instante e nos pediu para que fôssemos no quarto (aquário) do D.
Ela achava que ele estava muito triste por não poder ir à brinquedoteca, nos orientou sobre o tipo de isolamento e disse que podíamos interagir através do vidro.
Chegamos na antessala e ele, do lado de dentro, nos observava curiosamente; sua mãe parecia mais encorpada com a nossa visita. Falamos e a mãe fez sinal que não dava para ouvir o que dizíamos.
Nesse momento, olhei para o canto do vidro e vi dois carrinhos estacionados ao lado da cama dele. Pegamos uma fita crepe no balcão ao lado e fizemos uma pista de corrida para os carinhos.
Apontamos pra ele, para os carrinhos, e ele entendeu aquele desenho feito com fita crepe no vidro; pegou seu carrinho e começou a passar timidamente pela pista.
Fizemos um estacionamento, nos despedimos e deixamos um aviso que voltaríamos na quinta. Ele acenou com a cabeça e continuou a brincar.
Na quinta-feira, Dr. Chabilson, meu parceiro, trouxe canetas coloridas para pintura em vidro e, eu, dois carrinhos turbinados. Começamos a reforma da pista. Tiramos as fitas e desenhamos o circuito de corrida mais perigoso, radical e colorido.
Havia polvo pirata, óleo na pista, carrinho de sorvete, chamas, posto de gasolina, obstáculos e estacionamento grátis.
Após as voltas para testar a pista, iniciamos o GP (Grande Prêmio) do Santa. Carros em suas posições, luz verde, começa. D. saí à frente, seguido de Chabilson e Mané (eu), que bate no polvo pirata. D. para no carrinho de sorvete pra se refrescar e Chabilson toma a dianteira, mas escorrega na pista de óleo e vai para o pit stop.
Mané ultrapassa, mas acaba sua gasolina e ele é obrigado a parar; nesse momento, D. passa sua frente, desviou dos obstáculos, segue líder e vence a corrida. Chabilson chega em segundo e Mané em terceiro. Saímos derrotados de alegria.
Próxima terça teria outro Grande Prêmio. E teve. Trouxe outros carros, mas perdemos novamente. D. ficou treinando na pista, que não foi apagada durante o período que ele esteve lá. A cada encontro, novos obstáculos eram colocados na pista.
Por duas semanas, D. venceu todas as provas. Como prêmio por um campeonato bem-sucedido, ganhou alta e agora desfruta no aconchego do seu lar os títulos e histórias.
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