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Você já viu um papagaio andando de táxi?

10 de janeiro de 2024
Tempo de leitura: 2 minutos

Marcos Camelo (Dr. Totó)

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Tem um tempinho que estou tentando encontrar um jeito de falar sobre um acontecimento que eu, Dr. Totó, e meus amigos, Dra. Matilde e Dr. Peteco, vivenciamos no Hospital Municipal Getúlio Vargas Filho, o popular Getulinho.

Acontece que o acontecimento, citado acima, foi algo bem delicado e eu realmente não sabia muito como falar dele. Mas quando a gente menos espera, veio uma luz. E, no meu caso, a luz era o farol de um carro mesmo.

Eu precisava de um transporte, caminhar longas distâncias com meu enorme sapato de palhaço cansa a coluna, então pedi um Hubert. Quando este chegou, encontrei um motorista mais falante que o Dr. Peteco e a Dra. Matilde juntos. Haja ouvidos!

Conversa vai e conversa vem, ele começa a contar de um transporte inusitado que teve que fazer: levar uns animais silvestres para o Ibama. Tudo corria bem nesse transporte de animais, até que ele foi fechado por um outro carro e, de lá, saiu um homem desesperado clamando e pedindo ajuda. Mas que pedido era esse???

O Homem era tipo um pai de pet e queria se despedir do seu papagaio que estava dentro do carro… A caminho do Ibama!!!

O motorista me confidenciou que, de início, achou tudo curioso, quase engraçado. Porém, ele estava quase chorando, emocionado, ao final daquela situação com o reencontro entre o papagaio e o seu dono, e a despedida dos dois.

Enfim, segundo o motorista, o papagaio foi retirado de sua caixinha/transporte e reconheceu o homem, se abraçaram emocionados. O dono perguntava: “Quem é o papai?”. E o Papagaio respondia o nome do sujeito.

Conversaram papagaio e dono de papagaio por um longo tempo, relembraram histórias engraçadas e até comeram biscoitos mas, por fim, tiveram que se despedir. O motorista falava da dificuldade do dono em deixar o papagaio ir.

Esse talvez seja o momento mais difícil de todos, quando não há mais o que fazer. Porque, no “antes”, ainda podemos fazer algo, ter esperança, confortar ou dar um cafuné.

No “depois”, escolher lembranças e rir com algo que foi curioso, bobo… chorar com alguma delicadeza, alguma situação que mesmo sofrida ainda cabia, ao menos, estender a mão, pedir o pé ou oferecer um biscoito. Mas, e agora?

Agora, é deixar voar e guardar num cantinho todo decorado de saudades a cor verde das penas, a voz aguda repetindo sílabas em um aprendizado divertido e, aos poucos, se permitir voltar a voar.

Sabemos que o ninho não será o mesmo e, talvez, pais de papagaios façam como maritacas e gritem para que o coração pouse um pouco mais leve. E de grito em grito, voo em voo, a gente entenda que amor não é gaiola. E permita que o coração consiga planar com alguma leveza. E que a ausência troque de penas, como um papagaio. E outras cores apareçam colorindo as lembranças desse jovem passarinho que voou.

Dr. Totó (Marcos Camelo), Dra. Matilde (Letícia Medella)  e Dr. Peteco (Pedro Fernandes)

 

 

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artístico, hospital, palhaço, papagaio, saúde

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