Estamos todos atravessando um período conturbado, de incertezas e desafios, mas também experimentando outras maneiras de interação. Novos tempos.
O mar da internet e suas possibilidades nos permitiu uma brecha segura no distanciamento social e, desde meados de julho, realizamos intervenções online com pacientes do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil, em São Paulo. Primeiro passo, cada um no seu quadrado. Cada artista em sua casa e as crianças no hospital.
Acontece assim: duas profissionais do Itaci passam nos quartos dos pacientes e fazem o convite para o encontro. Elas abrem em torno de cinco salas virtuais, com até quatro crianças em cada, separadas por faixa etária, de alas diferentes do hospital. Tablets são revezados entre pacientes depois de devidamente higienizados.
Do lado de cá, os artistas ensaiam, criam um cenário propício, com objetos para criar interação na tela, instrumentos musicais e outros badulaques. Na verdade, os objetos que levamos nos bolsos do jaleco agora compõem nosso pedaço de tela, o quadradinho que passa a ser a casa do palhaço aos olhos das crianças!
A dupla também se prepara antes de realizar a intervenção, se reunindo previamente para conhecer os objetos um do outro e eleger objetos capazes de gerar a ilusão de viajar para além da tela. Criamos, assim, um repertório de possibilidades de interação virtual, que se amplia a cada nova intervenção, pois quando interagimos com as crianças sempre surgem inusitadas formas de interagir.
Muitas coisas aconteceram nos primeiros meses. Percebemos que é possível atravessar a tela e construir uma relação com cada criança. A lista de histórias pra contar já é grande e vira jogo quando, por exemplo:
– Um dedo indicador é jogado de pessoa para pessoa como uma bola de futebol
– Uma bolha de sabão voa livre, leve e solta com Pororoca e se materializa nas mãos de Zequim
– Soa a caixinha de música, Zequim dorme e Pororoca convoca as crianças para, no comando 3, gritarem o nome de Zequim para que ele acorde da soneca
– Uma música soa num quadrado e nos outros a dança rola solta
Agradecemos muito ao Itaci por embarcar conosco nesse projeto e por acreditar que é possível construir pontes de arte, afeto e cumplicidade, ainda que virtualmente. Seguiremos firmes e fortes!