Depois do dia para ser riscado do calendário, em julho tivemos o dia das melhores gargalhadas do ano!
Aconteceu lá no Instituto da Criança. Encontramos nosso parceirinho, o L., de menos de dois anos, que sempre que nos vê já começa a chamar com a mão, fazendo movimentos como quem diz “vem cá!”. Ele ainda não aprendeu a falar, mas já estabelece uma comunicação e tanto.
Nesse dia uma das enfermeiras do setor, percebendo nossa interação, se aproximou para mostrar um vídeo em seu celular que ele adora. Quando começou a música, eu (dra. Guadalupe) e dra. Pororoca começamos a dançar despretensiosamente. O L. nos observava de boca aberta, entendendo a junção daqueles dois elementos e, de repente, caiu na gargalhada. Ele ria sonoramente vendo nossos movimentos descoordenados, inclinava-se para frente e para trás, as veias do seu pequenino pescoço ficavam saltadas, tamanho era o volume de sua risada.
Fazíamos algumas pausas seguindo a cadência da música e então retomávamos a estranha dança. Ele parava, olhava para a mãe e voltava a gargalhar com força. Nenhuma de nós, nem mesmo sua mãe, havíamos presenciado uma reação dele como essa! Não me aquentei e comecei a gargalhar também, embala pelas risadas do menino. A mãe, vendo que eu ria de verdade, gargalhava junto e nossos olhos foram se enchendo de lágrimas!
É muito interessante porque mesmo sem dizer uma palavra, o garotinho gargalhava plenamente. Foi algo despertado em sua compreensão que atiçou o senso de humor do garoto e provocou essa maravilhosa reação!
O mesmo aconteceu logo depois com I., na Diálise. Ele também é bem pequeno e ainda não fala palavras completas. Quando chegamos perto do berço, ele brincava com algumas peças de encaixar. Começamos a participar da ação, tateando para ver como conseguiríamos interagir com ele. De repente, no meio de nosso desajeito com as peças, topamos com as grades do berço produzindo um som de batida. Reagimos e I. começou a rir. Repetimos a ação aumentando sua intensidade e o garoto ria cada vez mais forte!
A ação foi se tornando maior até começarmos a trombar em tudo, para além do berço. Ele simplesmente gargalhava! E gargalhávamos junto, trombando, batendo, até ir saindo do quarto em meio aos tropicões.
Ah, esse dia foi mesmo de lavar a alma. Eu nunca tinha percebido como o nosso senso de humor existe muito antes de existir a comunicação verbal. A sensibilidade do ser humano é algo potente, latente, desde seus primeiros momentos de vida, ou mesmo antes, muito antes.
E há quem acredite que as crianças são seres desprovidos de inteligência e incapazes de compreender o mundo. Pois não sabem que o riso é produto de um senso e de uma inteligência crítica? Ah, se nossas crianças fossem estimuladas a rir e gargalhar desde seus primeiros meses e anos de vida, que adultos não se tornariam, não é? E que mundo não compartilharíamos…
Dra Guadalupe (Tereza Gontijo) e Dra Pororoca (Layla Ruiz)
Instituto da Criança – São Paulo