Na UTI infantil conhecemos o Dan. Ele tem três anos e está internado desde abril deste ano.
No começo a nossa relação era um pouco distante. Tínhamos que nos comunicar quatro metros longe de sua cama, pois quando chegávamos muito perto ele fazia uma careta de quem iria começar a chorar. E nós nunca avançamos esse espaço sem o consentimento das crianças, até porque se uma criança abre o berreiro, todas as outras acordam.
Dan não fala, tem poucos movimentos corporais e sua mãe está sempre ao seu lado. Certo dia chegamos no quarto e ela estava fazendo uma massagem no pequeno com movimentos de fisioterapia. Eu e Dr. Chabilson fomos chegando, admirados com os exercícios de alongamento, e começamos a imitar os movimentos, chegando cada vez mais perto.
– Que legal, Dan, não sabíamos que você tinha esse alongamento todo!
Fomos brincando e chegando bem perto da cama. Pela primeira vez, ele não chorou. Estava gostando da visita.
Então tivemos a ideia: Dan poderia ser o dançarino da nossa banda. Peguei meu cavaco e Chabilson o seu chocalho. Começamos a cantar e tocar enquanto sua mãe, que entrou na brincadeira, ajudava na coreografia.
“Oi Dan, vamos cantar,
eu quero ver você piscar!”
Demos uma pequena pausa na música e, para nossa surpresa, ele piscou. Foi o nosso primeiro retorno de comunicação em cinco meses. Cantamos mais algumas vezes para tirar a prova de que ele estava piscando por conta coreografia e não por um cisco no olho.
“Oi Dan, como é que é
Que você, mexe seu pé…”
E na pausa da música, Dan mexeu o pezinho. Com aparente esforço para mover os dedinhos, ele ia seguindo o ritmo. Na plateia dessa banda só estávamos nós, bobos, sorrindo junto de sua mãe, observando o filho interagindo e fazendo seus movimentos. A primeira dança.
“Te encontrar
Foi bem legal
Mexendo a mão
Damos o tchau…”
E a mãozinha abrindo e fechando de Dan se despediu.