O garoto estava há semanas no hospital e ficava colado nos besteirologistas.
Assim que ouvia nossas vozes não desgrudava mais. Ficava sabendo de tudo o que a gente fazia. Às vezes, podíamos ver seu olhar vidrado de contentamento ora em mim, Dr. Marmelo, ora no Dr. Eu_zébio. Às vezes, ficava sério observando cada detalhe dos médicos mais atrapalhados que ele já vira em toda sua vida de menino de onze anos do interior.
Era bonito ser visto assim, com tanta admiração. Mas na maioria das vezes, ele bem que atrapalhava. Ficava dedurando que o Dr. Eu era careca e que eu tinha as calças apertadas. Ele ia pra todas as enfermarias com a gente. Nos lugares em que ele não podia entrar, como na UTI, nos aguardava do lado de fora, mesmo com a porta fechada.
Em uma manhã, ele fez seu percurso rotineiro, nos seguindo o dia todo, até a enfermaria onde ele ficava. Quando percebeu que estávamos indo para o seu leito, disparou na frente pra que quando chegássemos lá, tudo estivesse no lugar, inclusive ele.
O menino saltitava na cama:
– Agora eu! Agora eu!
Entendemos sua ânsia. Viu todas as crianças serem atendidas. Agora chegou a sua vez. Ele batia palma e repetia:
– Agora eu!
Fomos para o seu leito e nos preparamos pra cantar uma música. Nos primeiros acordes o garoto grita:
– Não, essa não!
– Então vamos cantar outra!
E cantamos a mesma.
– Não, essa não!
– Desculpa, nem tínhamos percebido que era a mesma… agora, Especialmente para você, uma canção novinha em folha!
E cantarolamos a mesma.
Lá se foi o menino, correndo pelo corredor do hospital com um chinelo na mão, atrás dos besteirologistas!
Dr. Marmelo e Dr. Eu_zébio (Marcelo Oliveira e Fábio Caio)
Hospital da Restauração – Recife