O tempo passa e a gente nem vê, quando vê, já foi. Tá vendo agora? Já passou, já passou e já passou de novo…e de novo e de novo e de novo…
Essa rapidez, que às vezes é tão lenta que chega a dar agonia, todos os dias nos presenteia e nos rouba momentos e sensações que ora nos fazem curar, ora nos fazem lamentar.
Quem nunca teve a sensação de que o encontro com a pessoa amada estava passando rápido demais? Ou que o elevador não chegava nunca ao andar certo? Aquela clássica vontade de que o final de semana chegasse logo e, quando chega, já é segunda-feira mais uma vez?
O tempo também nos trai com as lembranças importantes da vida, que queríamos nunca esquecer, mas…
Não sei vocês, mas eu, de vez em quando, fico tentando me lembrar de algumas sensações ou de momentos, e vejo que já fui traído pela minha memória, já não me lembro com todos os detalhes, não tenho mais o mesmo sentimento daquele segundo, e queria tanto não esquecer algumas coisas.
Por isso, cabe a nós termos o olhar atento, o coração aberto e a calma para usufruir de cada segundo com tudo que ele tem para dar.
Umas semanas atrás, no hospital, presenciamos um destes momentos únicos.
Dra. Guadalupe e eu, Dr. Mendonça, atendemos os setores de UTI pediátrica, UTI Neo Natal e Berçário no Hospital Universitário da Faculdade de Medicina da USP.
Umas das imagens mais corriqueiras é ver as mães ou pais com seus filhos no colo, dando de mamá, colocando para dormir ou apenas dando carinho àquela criaturinha que acabou de chegar. A gente sabe que os primeiros dias são muito difíceis, mas muito felizes também, cheios de momentos especiais.
Quando entramos na UTI Neo, tinha uma mãe ao lado da sua filha, que estava na incubadora, recebendo os cuidados devidos das enfermeiras. Ela estava ali, olhando para a sua pequena. Começamos a conversar e, papo vai, papo vem, a enfermeira perguntou:
– Você que pegar?
– Pode?
A mãe ficou surpresa e o clima se transformou. Ajeita a cadeira, se arruma, põe o cabelo para o lado, e aquela pequena criança faz o caminho mais longo e belo até o colo da sua mãe.
A notícia que surge nesse trajeto vem da enfermeira:
– Ela ainda não segurou a filha…
– É a primeira vez… – confirmou a mãe.
Ahhhhh, que coisa linda, que momento, desses dos mais importantes da vida! Eu e Guadalupe não poderíamos estragar isso, tínhamos que contribuir e fazer desse momento único o mais maravilhoso possível.
Vamos de ultrassom:
“Meu coração,
não sei por que
bate feliz quando te vê,
e os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo…”
Cantamos e fomos embalados por aquela primeira vez. Se eu não vou esquecer desse dia, imagina essa mamãe!