Não é o A, nem o B ou o C, vamos falar da vigésima segunda letra do alfabeto, a letra V. Viva o V, que já chega duas vezes num ViVa para comemorar. V de vermelho, da cor dos nossos narizes, V de Vovó e Vovô, de Vulcão e de Violão, de Vida e de Vagalume que clareia no escuro da noite. Mas o V que nos interessa é o V de Vitória, que conhecemos já faz um tempo. Segue o fio dessa história:
Sempre que chegávamos naquela enfermaria grande, com 8 leitos no total (e que com as acompanhantes, podemos contabilizar 16 encontros ao mesmo tempo), tudo girava em torno de um leito: o da Vitória.
Ela estava sempre no mesmo lado e na mesma cama, lugar cativo durante muito tempo. Vitória estava sempre à nossa espera. E nós, sempre loucos pra chegar logo a vez dessa enfermaria para encontrá-la.
Vitória sempre escolhia ficar do lado de um dos palhaços, o que nos deixava sempre na expectativa: quem será o escolhido de hoje? Porque o outro, com certeza, teria que jogar conforme o que Vitória mandasse, ela sempre dava as cartas.
Quando queria que um dançasse, tocasse, cantasse ou fizesse algum procedimento besteirológico, o restante do quarto parava. Havia sempre uma suspensão de todos em sua volta, pacientes e acompanhantes. Coitado do besteirologista da vez: dançava pianinho enquanto Vitória comandava as ações e ainda puxava seus seguidores.
Houve algumas idas e vindas de internações. Chegar naquela enfermaria e não avistar logo de cara a Vitória era como não degustar a última pipoca do saquinho ou o final do picolé que derrete do palito. Mas aí, do nada, voltávamos e lá estava ela, chamando e pedindo uma música.
Se não tocássemos a música que ela queria era choro na certa, tinha até cena de desmaio. Mas fiquem tranquilos, descobrimos depois de tanto tempo que um dos talentos da Vitória era a interpretação. Fosse para as cenas dramáticas de choro, para fazer de conta que estava com raiva ou mesmo para desmaiar.
Chegamos a presenciar uma cena de desmaio em pé. É sim, ela desmaiou em pé e ficou durante um bom tempo desmaiada assim, de pé, algo que a própria ciência não é capaz de explicar.
E pasmem, ao “tornar” ela voltou com uma risada plena e absoluta de quem de fato era merecedora de um Oscar. Aliás, na enfermaria dela não era raro ouvir os comentários de que as emissoras de TV estavam perdendo um grande talento.
Na verdade, não estou nem aí para o que as emissoras possam ter perdido, porque nós todos é quem ganhávamos com as cenas da Vitória, que nos brindava com suas surpresas e pedidos. Tanto no drama quanto na comédia, ela sempre provocava risos – até em nós que estávamos ali para isso.
Mesmo assim, sempre soubemos que com a Vitória não se brinca, ou melhor, se brinca sim, mas a dona da bola era ela, deixe ela…
Bem, depois de um tempo de ausência, Vitória voltou e foi uma surpresa não tão boa. Não encontramos nela a mesma dinâmica dos encontros anteriores, não foi fácil para nós observarmos a Vitória sem as reações que sempre nos deixavam de peruca em pé.
Ela não reagia e não era difícil perceber, pelos cuidados da equipe, que o momento inspirava cuidado e atenção especiais.
No final do mês de julho, como sempre acontece todos os anos, tivemos uma semana de recesso e, ao voltarmos dessa pausa, procuramos o posto de enfermagem meio que nos preparando para ouvir algo que não gostaríamos de ouvir.
E numa conversa particular com a equipe, momento papo sério mesmo, perguntamos à Linda, da enfermagem, se a Vitória ainda estava internada e como ela estaria, pois da última vez que nos falamos as expectativas não eram das melhores. E ouvimos o que não esperávamos ouvir.
Mais uma vez a Vitória nos surpreendia, Linda nos deu a notícia de que ela estava em casa e nossos queixos chegaram nos pés. E, como se não fosse suficiente, a Linda nos presenteou colocando pra ouvirmos um áudio da Vitória mandando um beijo pra “Tia Linda”.
Não precisamos nem dizer o quanto essa notícia nos motivou o resto do dia. Como se não bastasse, aproveitamos uma carona no zap da Linda (obrigado, Linda!!!) e mandamos um vídeo pra Vitória.
Estávamos tão felizes que não conseguíamos nem achar o tom da música, a letra ficou embaralhada em nossas cabeças, mas não podíamos deixar de compartilhar nossa alegria de saber que ela estava em casa.
Por isso, viva a vigésima segunda letra do alfabeto: V de Vitória. Depois disso só restou a saudade. Mas essa é com S, deixa pra outro momento.
Dr. Micolino (Marcelino Dias), Dr. Gonda (Tiago Gondim), Dra. Muskyta (Olga Ferrario) e Dr. Wago Ninguém (Wagner Montenegro)