Toda relação vive de altos e baixos.
Todos os casamentos, namoros ou amizades que eu conheço são como o dia e a noite: ora brilhantes, ora obscuros. As relações entre os seres humanos são como a vida, em constante transformação. Nada está dado, tudo está para ser conquistado.
Com esse pensamento filosófico existencial em mente, eu, Dra Lola Brígida, resolvi dar um tempo em minha relação com o Dr Charlito, meu parceiro de plantões besteirológicos no hospital. Apenas um tempo, uma leve separação, um passo em retirada para poder seguir adiante. Nada de rupturas, brigas ou desencontros.
A verdade verdadeira é que Charlito tem fortes problemas de gases… Flatulências… Pum mesmo. Já desenvolveu inclusive uma tese de doutorado sobre o assunto, com direito a demonstração ao vivo. Em cada quarto que chega demonstra suas habilidades e as diferentes formas de deixar sair aquele incômodo ar preso em sua barriga. Tem o lambreta (que sai com o motor ligado), tem o casas bahia (em suaves prestações), tem o naja (silencioso, mas fatal) e tem aquele que sempre vem acompanhado (sem legendas).
Eu, uma jovem senhora de faro apurado, sufocada nesta relação aromática, resolvi ir respirar em outra freguesia: fui passar um tempo fora. Então nesse mês foi assim: ele dentro, eu fora.
Lá dentro ele andou com outras mulheres: Dra Guadalupe, Dra Nina Rosa e Dra Sakura. Isso foi o que fiquei sabendo, fora o que eu não sei. A V., nossa paciente da hemodiálise, estava até organizando o casamento dele com a Sakura! Vejam só! Acho que a Sakura tem rinite, desvio de septo ou falta de sensibilidade nasal!
E eu, lá fora, só levei fora! Fui atrás de outros rapazes, mas só fiquei pra trás. Busquei novas aventuras e só encontrei desventuras. Atravessei o oceano e entrei pelo cano, embarquei num navio e naufraguei, escalei montanhas rochosas e levei uma rocha na monta.
Assim cabisbaixa, voltei para Charlito. Antes um cheiro conhecido do que ficar sem marido.
Lola Brígida (Luciana Viacava)
Instituto da Criança – São Paulo