Depois de quatro dias de imersão no Encontro Nacional de Palhaços que Atuam em Hospital, é hora de voltar pra casa. O evento trouxe muita reflexão, debates e oficinas de orientação para participantes que vieram de todos os cantos do país. A ideia era discutir o trabalho dentro do hospital e a qualidade do que é levado para os pacientes.
Agradeço a todos que participaram do 3º Encontro Nacional de Palhaços que Atuam em Hospital, que aconteceu no meio do feriado da consciência negra. Creio que esse encontro abriu a consciência de muita gente para uma nova realidade, do que se espera e se exige para continuarmos atuando nos hospitais com potência e qualidade.
Parabéns a toda equipe de profissionais da Doutores da Alegria que atuou na produção, aos artistas formadores que deram as oficinas de habilidades – música, jogo, improviso e mágica, assim como a oficina institucional – e aos palhaços que atuaram na Roda Besteirológica. Um agradecimento especial à Mirna e à toda a equipe do Liceu Santa Cruz, que abriu as portas, janelas, armários, geladeiras e ainda estendeu um tapete vermelho para nos receber com carinho e respeito durante todo o evento.
Uma alegria receber mais de 100 participantes de 13 estados brasileiros: Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo representados por 40 grupos: Anjos da Alegria, Arte Cura, Atos & Palhaços, Cia ETC & Clown, Circulo do Riso, Cirurgiões da Alegria, Compartilhando Riso, Clown Fusão, Doutores + Palhaços, Doutores da Pá Virada, Doutores do Coração, Doutores Sorriso, Doutorzinhos, Dr. Vascão, Esparatrapo, Esquadrão da Alegria, Expresso Riso, Fisioterapia com Alegria, G-Palhaços, Gema da Alegria, Hospitalhaços, Instituto Ha Ha Ha, Medicômicos, Narizes de Plantão, Núcleo Artístico Gema, O olhar do Palhaço, Operação Alegrarte, Operação Arco Íris, Palhaços de Plantão, Palhamédicos, Plantão Sorriso, Presente da Alegria, Projeto Sorrir, Raros da Alegria, Sopradores da Alegria, Sorriso de Plantão, SOS Alegria, Terapeutas do Sorriso, Trupe da Saúde, Trupe d’Alegria e Viver de Rir.
Agradeço aos nossos convidados médicos: Dra Maria Aparecida Basile e Dr. Luiz Fernando Lopes, e ao filósofo Emílio Terron por abrilhantarem nossas discussões com reflexões sobre o cuidar. Como eu me cuido para entrar no hospital, como cuidar do meu paciente, dos seus acompanhantes e dos profissionais que atuam conosco lado a lado nos corredores, salas de espera e nos quartos…
Ao Wellington Nogueira e à Morgana Masetti por nos colocarem na linha do tempo e mostrar a importância do que estamos construindo; de qual palhaço somos representantes, temos uma linhagem e em que modelo de hospital atuamos?Como inserir o palhaço no movimento de humanização sem banalizar suas atribuições questionadoras e reflexivas? Como responder artisticamente às provocações que passamos e enfrentamos em nossos atendimentos hospitalares?
Por fim, aos apoiadores, patrocinadores e aos ouvintes que acompanharam as mesas de discussão, palestras e cabarés!
Na abertura do evento tivemos a Roda Besteirológica dos Doutores da Alegria com cenas que saíram dos quartos de hospital e chegaram ao palco. Participaram Marcelo Marcon e Nilson Rodrigues (Dr. Mingal e Dr. Chicô) com Aula de Besteirologia, Layla Ruiz e Raul Figueiredo (Dra. Pororoca e Dr. Lambada) com Firuliru e Asa Branca, Val de Carvalho e Sueli Andrade (Dra. Xaveco e Dra. Greta) com Boneca Tayná, Wellington Nogueira (Dr. Zinho) com Ora, Bolhas!, Márcio Douglas e Du Circo (Dr. Mané e Dr. Pinheiro) com Atendimento – Encontro da Criança e novamente Raul Figueiredo e Val de Carvalho com Trilhares, relembrando uma cena criada em 2006 pela dupla.
Na segunda noite de cabaré recebemos cenas de diversos grupos que participaram do evento: Eliseu Pereira (Dr. Gaguelho, Cirurgiões da Alegria) com Leôncio, o Gato Louco, Dênis Menezes e Annelise Caneo (Délcio Garapa e Arlinda Pestana, Cirurgiões da Alegria) com Música Havaiana, Sem Nome da dupla Bruno e Micheli Madalozo (Esparadrapo e Tibúrcia, Doutores Palhaços), Bruno Mancuso (Pelúcia, Trupe da Saúde) com Carlinhos Ganha um Ferrorama e várias cenas do Espetáculo Vitamina com os palhaços da Trupe da Saúde. Também nos divertimos com uma dublagem de Alex Mazzanti (Xurumi, Operação Arco Íris) e Renato Garcia (Dr. Gracinha, Gema da Alegria) nos apresentou a canção da bailarina.
Na terceira noite recebemos os artistas do documentário Circo Paraki e sua diretora Priscila Jácomo, que apresentou brilhantemente seus convidados: Pepin e Florzita, Loren e Marília de Dirceu. Que noite incrível tivemos, não? Quem ficou até o final e participou da conversa com certeza entendeu que o palhaço é a alma do circo e fez com que assumíssemos um forte compromisso com esse ofício… Emocionantes os depoimentos do quarteto e o respeito com a plateia. Tiramos o chapéu e aplaudimos de pé!
O Encontro só aconteceu nesse formato por que a rede de palhaços que atuam em hospitais atendeu à nossa provocação para discutir este ofício e contribuiu com questões que os impedem de realizar um trabalho melhor. Juntos pudemos trazer profissionais que nos ajudaram a pensar numa forma de construir um modelo de atuação visando a criação de uma nova profissão, para que em breve ouçamos nossos filhos e netos nos comunicarem que irão prestar vestibular para a faculdade de Besteirologia!
A Escola dos Doutores da Alegria preparou as oficinas e o conteúdo tendo em vista as necessidades apresentadas na enquete realizada no grupo do Facebook do programa Palhaços em Rede. O que vimos foi um amadurecimento nas discussões e a compreensão do que nos propomos a fazer. A questão sobre quem começou primeiro – Michael Christensen ou Patch Adams – foi esclarecedora para que os participantes entendessem a real diferença entre um palhaço que faz a paródia do médico e o médico que se veste de palhaço. Para um, o palhaço é um fim, uma meta, um objetivo na vida; para o outro, um meio, uma ferramenta para acessar seu paciente. Não basta o amor ao próximo, é necessário estudar… Patch estudou por vários anos a Medicina antes de vestir-se de palhaço… Ele conhece o lugar onde vai atuar…
O hospital não é um lugar qualquer. Precisamos estar preparados para enfrentar os desafios propostos lá dentro tanto nas questões da saúde como nas questões artísticas, quando nos propomos a vestir a máscara do palhaço, pois ela também requer estudo, assim como vestir a máscara do médico. Parece que isso ficou claro para os participantes! A importância em estudar e aprimorar o conhecimento: “Quem somos, o que fazemos e onde atuamos?”
Vamos fortalecer essa rede com nossas discussões, apontamentos de filósofos, artistas, profissionais da saúde e da nossa sociedade! Foi lindo, tocante, reflexivo, divertido, exaustivo, conflitante, confiante, empolgante, emocionante, relaxante e elegante! Enfim, foi o que deveria ser!
E tudo isso foi filmado pelo Sérgio Nogueira, da Bamboo, acompanhado da sua fiel escudeira Pietra, e o registro fotográfico ficou a cargo da querida Nina Jacobi.
Saímos satisfeitos desse terceiro encontro e deixamos uma provocação para os participantes:
Inspirados em tudo o que vivemos e desfrutamos nesses quatro dias, o que vocês acreditam que possam fazer de imediato já na próxima visita ao hospital?
No meio do caminho tinha um palhaço…
Tinha um palhaço no meio do caminho
E agora José? Para onde ele vai?
Qual será seu fim?
Qual o meio para chegar a esse fim?
Daqui a dois anos tem mais! Que em 2015 possam acontecer fóruns regionais conduzidos pelos grupos da rede para que em 2016 as discussões sejam ainda mais esclarecedoras. Que o comprometimento com o trabalho seja um valor alcançado por todos.”