Muitas conversas sobre o futuro dos hospitais vêm se dando ao redor do mundo. Aqui no Brasil, fóruns e congressos discutem novas maneiras de acolher pacientes, abordagens além-médicas para tratar doenças e formas de abrigar a crescente população idosa na sociedade. Mas talvez as conversas ainda aconteçam muito a portas fechadas, sem envolver vozes da comunidade, como os profissionais de saúde, os pacientes e ONGs que atuam no setor.
Uma organização quis virar a mesa, inverter os papéis. Em 2013, conduziu um experimento com pessoas de todo o mundo, abrindo um diálogo global sobre o papel dos hospitais no século 21. O Institute For The Future, localizado no Vale do Silício (Califórnia), atua com a missão de ajudar empresas e organizações a construir os futuros que desejam, prevendo tendências e comportamentos.
No experimento com hospitais, desenvolveram um jogo dinâmico e envolveram 637 pessoas de diferentes nacionalidades para, juntas, reinventarem um sistema de saúde que atenda às necessidades contemporâneas, com novas forças sociais, econômicas, tecnológicas e epidemiológicas.
Como foi esse jogo?
Com duração total de 24 horas, o jogo consistia em um vídeo inicial com a proposta e três desafios partindo do pressuposto de que o modelo atual de hospital é insustentável e precisa de reinvenção. Os participantes precisavam repensar e discutir três problemáticas (abaixo) utilizando respostas curtas, de no máximo 140 caracteres.
Os desafios…
+ dificuldades enfrentadas por departamentos de emergência
+ hospital como centro de bem-estar da comunidade, não apenas lugar para tratar doenças
+ papel que o hospital pode desempenhar para diminuir a lacuna entre as descobertas científicas e melhores resultados na saúde
E os resultados, quais foram?
Foram geradas 4.528 ideias! O Institute For The Future reuniu as mais expressivas e inspiradoras em um documento, disponibilizado em inglês em seu site (aqui, ó).
Eles destacam a ideia comum de ter hospitais menores que ofereçam serviços de cuidados atrelados a ferramentas digitais. Seria preciso reaproveitar os espaços físicos existentes, pensar as qualificações da sua força de trabalho e as estratégias para, de fato, conectar-se às comunidades locais. Muito inspirador! Outras percepções surgiram, como essas:
“Hospitais devem ser o epicentro de atendimento de urgências, mas não o único foco de um sistema de cuidados de saúde.”
“Poderiam tornar-se lugares que recolhem histórias de saúde, em vez de apenas coletar relatos de doença. Um lugar para falar, um lugar para ouvir.”
Depois do relatório inicial, a organização analisa mais profundamente todas as ideias, ameaças e oportunidades que surgiram do jogo. Um trabalho denso!
“Imagine esse exercício sendo proposto em cada hospital pelo país. Uma construção coletiva com ideias de pacientes, médicos, um fórum aberto”, idealiza um dos jogadores. E nós também!
Doutores da Alegria bate na tecla de que o hospital precisa ser enxergado como um local em se respire vida e saúde; e que, portanto, pode ser habitado pela arte em suas mais diversas formas. O palhaço, a música, o teatro, a dança, a poesia… Todas essas manifestações artísticas afetam as relações, nos ensinam a pensar e a sentir o que não é dito ou traduzido de outra forma.
Diversos hospitais pelo mundo estão mudando seus interiores com este pensamento. Seria esse o primeiro pequeno passo para o hospital do futuro?