Entramos na UTI do hospital do Mandaqui no outro dia e recebemos a informação de que lá havia uma menina, que aqui vou chamá-la de Duda. Nos disseram que ela era muito brava e estava brigando com todo mundo ali na UTI.
Duda é uma menina de 6 anos, ela é uma menina bem grande para a idade dela (o que, às vezes, algumas atitudes dela podem ser lidas como um atraso ou qualquer coisa do tipo, mas não, ela só tem 6 anos e tem atitudes que dizem respeito a uma criança de 6 anos).
Bem, nosso primeiro contato com ela foi um pouco caótico (não posso negar), ela pouco quis falar com a gente, ela não podia ver ninguém de branco e já começava a chorar. Não foi diferente quando nos viu.
Isso aconteceu em uma segunda-feira. Na quarta-feira, estávamos na UTI novamente e lá estava Duda novamente.
O que foi passado para nós, é que ela continuava muito nervosa com tudo e com todos, que ela estava uma verdadeira onça. E lá fomos nós novamente tentar um contato, ou melhor, lá fomos nós cutucar a onça com vara curta.
Começamos a conversar com a mãe dela, Duda foi prestando atenção naquela conversa um tanto quanto trivial e, assim, logo conseguimos um primeiro contato com ela.
Usei a técnica milenar de falar com alguém, mas fingindo que a pessoa não está ali, quem nunca? (Eu sempre!).
Comecei dizendo:
-“Sabe, dona mãe da Duda, estão dizendo por aí que entrou uma onça bem brava aqui na UTI”. A dona mãe da Duda entrou na brincadeira dizendo que sim, e a Dra. Bolot´s acrescentou:
-“Nossa, Pamplona, eu morro de medo de onça, se aparecer uma onça aqui eu saio correndo!”.
-“Bolot´s, eu sou a maior imitadora de onça deste hospital, sabia?”
E assim comecei a imitar bichos aleatórios, a menina ia nos corrigindo dizendo qual era o animal correto. Até que ela parou a brincadeira e disse muito alto:
-“A ONÇA FAZ ASSIM: URAAAAAA!!!”, fazendo a gente correr pra fora da UTI.
Ficamos do lado de fora ouvindo ela dizer:
-“Ei palhaças, voltem aqui, tem uma onça que quer conversar com vocês!”.
Nós voltamos e continuamos a brincadeira com ela, que agora havia virado nossa amiga.
Estou aqui contando essa história pra vocês, pois foi a partir desse episódio que outros profissionais da saúde conseguiram acessar, de fato, a garota.
Eles perguntavam se ela era a menina onça e ela toda se sentindo dizia que sim, e assim eles conseguiam fazer com mais tranquilidade os procedimentos. Isso foi uma descoberta besteirológica que ajudou a medicina tradicional a acessar uma paciente.