Sabe aqueles encontros de última hora? E que acontecem no apagar das luzes, que nos fazem pensar: nossa, ainda bem que encontramos com ele hoje!
Pois foi assim o encontro com o L., menino de uns 6 anos. Estava ele sentado na cadeira ao lado de sua mãe. Abaixamo-nos para falar com ele e nos apresentamos. Ele ficou boquiaberto, com ar surpreso e um brilho nos olhos.
– Bom dia, eu sou o Dr. Micolino.
– E eu sou a Dra. Monalisa.
– Diga alguma coisa pra eles!, respondeu a mãe.
Ele apenas balbuciou alguma coisa.
Mas L. não poderia jamais falar naquela hora, porque o seu tempo era outro. Não era o tempo de dizer o nome, porque quando nomeamos nós delimitamos o que vemos para entender com a mente. E aquele não era o tempo de entender. Aquele era o tempo do espanto, da surpresa, do alumbramento, do não saber.
A boca não falava, mas como seus olhos brilhavam. Olhos que nos inquiriam, nos indagavam, sorriam de volta, perguntavam quem éramos nós, convidavam pra ficarmos! E para fazermos exames, pílulas embaixo do sovaco, fazermos barulhos engraçados, examinarmos seus dedinhos e verificarmos se estavam no ritmo e, no fim, darmos um atestado.
Foi justo aí, no finalzinho, que precisamos perguntar a ele onde ficava a testa.
– Aqui!, e apontou com o dedo. Finalmente falou.
Foi um encontro com uma linguagem quase silenciosa, mas intensa. E um olhar que disse tanto a ponto de nos fazer pensar na beleza e na alegria de estar presente, vivo, junto, pulsando numa mesma bobagem.
Dr. Micolino (Marcelino Dias) e Dra Monalisa (Greyce Braga)
Hospital Barão de Lucena – Recife