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A relação com o tempo tem me deixado fora de tempo

10 de junho de 2020
Tempo de leitura: 2 minutos

Luciana Pontual

Atriz, palhaça e encenadora. Atua como Dra. Svenza na Doutores da Alegria, em Recife, desde 2005.

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Que dia é hoje? Sim, é quarta-feira. Mas poderia ser qualquer dia da semana, já que os dias têm se fundido. Essa relação com o tempo tem me deixado fora de tempo. Eu sou o meu próprio tempo, o meu templo.

Ficar: permanecer num lugar, alojar-se, hospedar-se, restar, assentar, deter-se, parar, achar-se.
Casa: moradia, construção de alvenaria, geralmente destinada à habitação.

Sim, permanecemos em nossas casas parando um pouco para nos achar, habitando essa construção de alvenaria e dando vida ao lar. Tirando a poeira dos objetos esquecidos, o mofo das roupas guardadas ainda com etiquetas, que quando compramos jurávamos que precisávamos muito daquilo. Janelas abertas, vasculhamos gavetas e memórias em álbuns de fotografias antigas. Numa das gavetas, o lenço da minha vó. Incrível como uma foto e um objeto nos levam para perto de alguém. Estamos tendo a oportunidade de abrir muitas gavetas e revirá-las.

Tem sido desafiador me deparar comigo o tempo todo, estou sendo eu mesma em tempo integral. E me aproximo de partes desconhecidas de mim que me surpreendem. E me alegram. E me assustam. Meus olhos me observam mais atentos e me revelam, como em uma fotografia. Ao me ver, vejo a minha mãe, meus avós, meu filho, meu pai, meu irmão, as pessoas que estão próximas a mim. Percebo que sou todos eles revelados em meu corpo, minhas escolhas, minha história. Entendo que mesmo isolada eu não estou só. Cabemos todos em uma única fotografia.

Há dias em que me cerco de um vazio profundo, silencio, abro espaço e habito o nada. Percebo camadas volumosas de sentimentos e sensações. Sim, tem muita emoção agarrada entre a carne e o osso. Memórias impregnadas ao corpo!

Também é bom ficar em casa, me reconhecer em cada canto, ouvir o jornal enquanto preparo a comida, ver meu filho brincando, imaginando estar em outros lugares, criando mundos possíveis. Ele sempre me lembra de sorrir e fazer brilhar os olhos. Bom ter mais tempo para ouvi-lo. Há dias tristes, mas também há dias lindos. Vocês têm notado o céu?

Sempre soube que a arte é um meio forte de comunicar. O céu tem se mostrado como uma tela de cores deslumbrantes, verdadeira obra-prima. Ele parece sorrir para mim, me sinto abraçada, evidente que não estamos sós. E é através da arte e nos apropriando da tecnologia que criamos o Delivery Besteirológico. Sim, estamos abrindo a porta da nossa casa e preparando vídeos com muito carinho, para que mesmo pelo celular ou computador possamos minimizar o distanciamento.

Que nossos vídeos cheguem aos hospitais e que a arte e o riso sejam o elo para continuarmos juntos!

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Luciana Pontual

Atriz, palhaça e encenadora. Atua como Dra. Svenza na Doutores da Alegria, em Recife, desde 2005.


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Delivery Besteirológico, ficar em casa, fora do tempo, memória, quarentena, vazio

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